Relato Jodhpur
RESUMO JODHPUR (Diário de Bordo)
Finalmente chegamos ao Rajastão e como tudo muda, o cheiro é outro, as pessoas são hospitaleiras, ao invés da perturbação sufocante de Delhi, recebemos todo dia um "ola", as crianças pedem para tirar fotos, as senhoras com seus saris coloridos sorriem e posam para uma foto lavando suas roupas num rio, senhores oferecem flores pela rua, o céu está sempre azul, nenhum motorista de tuc-tuc te amola e ao chegar ao Forte tudo e grandioso e mágico, da pra se perder naquele palacete, tudo detalhado, cheirando a marfim, lá fui iniciado, tiro o sapato para visitar o templo Hindu, toco o sino, o guru me abençoa, nasce meu terceiro olho e ganho mirra para que Durga me proteja por toda viagem, aqui o Deus mais venerado é Ganesh, que está de alguma forma presente em todas as casas, no mercado municipal conhecemos Vick, vendedor de omelete, você paga algumas rupias para se divertir com ele e ganha uma omelete de brinde, que é delicioso por sinal, aqui em Jodhpur, tudo ficou azul em nosso paraíso, uma cidade que continua com suas vielas, altar a Shiva, lojas, vacas e venda de especiarias como a quinhentos anos atrás, fantástica...
PAPAI NOEL AZUL
Já fora da estação, vários motoristas do Tuc-Tuc nos cercavam, escolhia aquele que parecia ser o mais honesto e o que oferecia o serviço por menor preço, saindo do tumulto da ferroviária, pedi que nos levasse a uma guest house com preço econômico, Raj, disse que conhecia uma, chamada Blue Guest House, por falar em azul, a princípio a cidade não parecia ser tão azul assim, na verdade estávamos cruzando uma imensa favela, pelo menos é muito parecido com o que chamamos de favela em Sampa, muito barracos amontoados, vielas de terra sem saneamento básico.
O tuc-tuc com sua buzina inquietante ia atravessando essas ruelas que mal cabiam uma vaca, ora a tal entidade sagrada era empurrada do meio do caminho para que o tuc-tuc pudesse passar, as vacas vivem a comer lixo deixado pelos moradores da cidade. Chegamos à guest house, meio que escondida em antigos edifícios de estrutura mughal, deixamos nossas bagagens na recepção, pediram que aguardássemos o dono da guest house chegar para negociar o preço, o local era sofisticado, já imaginava o preço das diárias nas alturas, enquanto esperávamos, nos aconselhou a tomar o café no terraço, aceitamos, pois estávamos famintos, foi o início do butter toast com omelete no café da manhã, e, no terraço descobrimos como Jodhpur é azul, e bela!
Podíamos ver o forte Mehrangarh sobre a montanha, era imenso e se destacava imponente sobre o vasto azul do céu, Miguelito já estava convicto, era aqui que passaríamos a noite, e o preço? Tentador! Apenas 550 rúpias para os três! Só o chuveiro, em que tínhamos que caçar os pingos, que não era dos melhores, mas se tratando da Índia, aquele chuveiro pode ser considerado como luxo.
O mirante no terraço revitalizou nossas energias depois da difícil viagem de trem, na verdade nem lembrávamos mais da noite passada, em êxtase queríamos caminhar pela cidade e chegar ao forte, deixamos as bagagens e Miguelito no quarto e zarpamos para a cidade, no caminho, as crianças nos acompanhavam, arriscavam as primeiras palavras em inglês e pediam para que tirássemos uma foto delas, só que o número de pedidos foi aumentando, todos queriam ser registrados para a eternidade em Jodhpur!
Nas portas das casas estava presente a imagem de Ganesh, o deus hindu protetor do lar, ora pintado, ora com imagens coladas, ora com lajeado.
O comércio era outra diversão, as típicas lojinhas, não passavam de cubículos que não ultrapassavam 2 metros quadrados, em que o vendedor ficava sentado no meio das bugigangas, geralmente as lojinhas de madeira tinham uma espécie de degraus, em que no primeiro deixávamos os sapatos e no segundo subíamos para negociar, cada um comprou um cobertor para a próxima viagem de trem noturno, nada de passar frio novamente, negociávamos exaustivamente para comprar as primeiras lembrancinhas para os amigos, foi em um desses cubículos que liguei pra casa, desejando feliz natal, por incrível que pareça era Natal...
Pelas ruelas de terra acompanhávamos uma cerimônia de casamento, entre uma e outra viela, surgia um pequeno templo hindu, com incenso, arroz colorido e algumas velas, outro local marcante foi uma fonte de água, protegida por grades, uma velha senhora com dentes dourados ficava do lado de dentro enchendo as canecas de água em troca de algumas moedas, outros vinham com baldes pegar água para suas casas.
Era difícil encontrar as mulheres indianas pelas ruas da cidade, voltamos para almoçar no guest house, foi a primeira experiência com a comida local, e que momento inesquecível, no terraço, me senti na santa ceia, as mesas eram baixas e sentamos no chão sobre um colchonete azul, pedi um palaak pannir, o prato era saboroso e picante, e diríamos: bem colorido: molho bem verde de temperos típicos e com grandes pedaços de queijo, junto veio três rotis (pão muito parecido com o sírio), usava o roti como colher para pegar a pannir, e para quebrar o ardor da pimenta, pedimos ao garçom lassi de laranja, uma espécie de iogurte, também delicioso.
Por volta das 18 horas, quando o sol ia se pondo, a energia acabou por toda a cidade e dos verdes megafones espalhados pelas ruelas de Jodhpur escutamos as orações dedicadas a Alá por cerca de 10 minutos... Em Jodhpur não existe privacidade, não existe feriado, mas tudo estava Blue.
Na praça central da cidade o único local para descansar, era sentar em umas das vendinhas de lanche de omelete, escolhemos a do Vick, um jovem extremamente simpático, e, até descascar e cortar toda a batata dos nossos pedidos, tínhamos tempo de sobra para fazer novas amizades, uma delas foi uma portuguesa que mochilava pela Índia. Os vendedores de omelete têm caderninhos em que os clientes anotam depois de ter provado os lanches, relatam suas sensações e sobre sua experiência ali... Deu tempo até pra ensinar algumas palavras em português pra Vick, e olha que em dois dias ele aprendeu muita coisa, caminhávamos pela cidadã, íamos pra lá e pra cá e a parada no Vick era obrigatória.
Caminhando e descobrindo a cidade subimos o morro para conhecer o Forte, que é imenso, leva quase o dia todo para conhecê-lo, nos separamos, cada um foi para um canto, acabamos nos perdendo, cada qual fez sua viagem solitária pelo forte, o que impressionava era a quantidade de detalhes, nas portas, paredes, janelas, que eram muitas, das mais variadas formas, nessa imensidão eu refletia sobre três temas: o tempo de duração da produção das sutis esculturas, dos artistas que a construíram e de como era possível toda essa opulência para um marajá, algo inimaginável para apenas uma família.
Das janelas via toda a cidade azul que cercava o monte. Nos corredores do Forte do Sol ficavam encantadores de serpente fazendo seu espetáculo...
Depois de subir e descer escadarias infinitas, vasculhar salas e mais salas, encontrei as garotas... Seguindo as placas, e, passando por lagos com homens trabalhando, fomos até o mausoléu que ficava cerca de um quilometro dali, Jaswant Thada, outra construção megalomaníaca, o chão de mármore em preto e branco, as várias tumbas, referente as várias gerações de marajás decoravam o monte, lá ficamos até o entardecer admirando as tumbas, as janelas, teto e fachadas do local que impressionavam...
Estava na hora de pegar novamente o trem, agora rumo a Jaisalmer, novamente na Classe Sleep... Dessa vez parecia que estávamos mais preparados, além do cobertor a muvuca indiana não causava tanto espanto... Entramos no trem, fomos para as nossas camas, uma família pediu permissão para tirar uma foto nossa... Comecei a observar aquela família, na hora de comer todos se viravam de costas para nós, aquele momento devia ser intimo para a família, o pai era a pessoa que tomava todas as ações, arrumava as camas, comprava e servia as comidas, pegavas algo nas bagagens. Todas as famílias viajavam com várias crianças, não resisti e tomei o nescafé da estação, e não é que era bom mesmo! Depois bem aquecido pelo cobertor, dormi a melhor noite da trip...
Marcelo Nogal





Viaje por Jodhpur
através das fotos >
A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (VISITANDO A CIDADE AZUL E O FORTE);
COMO CHEGUEI: TREM NOTURNO DE DELHI - RAILWAIS - ;
ONDE FIQUEI: BLUE HOUSE GUEST HOUSE -
O QUE COMI: COMIDA INDIANA;
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ E DE TUCTUC PELA CIDADE;
PRA ONDE FUI: PEGUEI TREM NOTURNO PRA JAISALMER;
