Relato Copacabana
COPACABANA- XAMÃ
Estava disposto a conhecer um bruxo tradicional andino, ou melhor, Xamã local! Sem preconceitos é claro, e, o melhor local para realizar meu ritual era na cidade de Copacabana.
Ao chegar à pequena cidade as margens do Lago Titicaca, rapidamente notei a influência da cultura xamã: os carros eram enfeitados com oferendas e flores, em que o xamã depois de uma reza a Pachamama jogava Paceña dentro do motor do carro, agitava a garrafa tomava um pouquinho da cerveja e dale espuma na lataria das velhas Toyotas! As entradas dos estabelecimentos eram enfeitados com uma relíquia religiosa feita de totora, colado na madeira: bolivarianos, dólares, euros, todos aqueles dinheiros eram oferecidos aos deuses das montanhas...
O interessante é que neste mesmo local depois das expedições marítimas foi difundida a fé cristã e uma imensa igreja a Catedral de Nossa Senhora de Copacabana foi erguida na cidade, e, na imensa montanha que serpenteia o vale, que lembra o Pão De Açúcar no Rio de Janeiro, nada mais é que um vale sagrado, várias sepulturas a mais de 3600 metros de altitude foram construídas, a subida ao calvário de 400 metros é íngreme e cansativa, que começa ao lado a Igreja Jesus de Colquepata (Mistura da cultura aimará com a espanhola), no elevado percurso, em cada curva uma cruz está fincada no solo, os devotos param em cada uma delas para orações e depois jogam uma pedra sobre sua base, a deixando com uma aparência exótica. Ao término da subida temos uma vista deslumbrante da cidade, do Lago Titicaca e da catedral...
Mas agora estava disposto em conhecer um xamã de Copacabana, os bolivianos locais apontavam em direção ao Sierro com receio e um pouco de medo, apontavam para uma casinha verde, diziam que lá morava o bruxo, e se eu estava realmente disposto em conhecê-lo, que era perigoso, as entidades talvez não gostassem...
Antes de decidir sobre ir ou não ao curandeiro, comi uma truta local acompanhada da famosa Inca Kola, que delicia de peixe! Infelizmente minha filmadora não mais funcionava, o zoom havia danificado e não conseguia filmar nada naquele momento da viagem...
Já tinha decidido: Segui para a casa verde do Xamã, sua fala era uma mistura de castelhano com a língua local, pediu para que sentasse e estendesse as mãos, em uma delas colocou pequenas pedrinhas e na outra mão algumas moedas bolivianas, enquanto picava folhas de coca e colocava em seu cachimbo perguntava o que desejava, disse: “Que eu tenha sorte, saúde em minha viagem e que não chova durante o percurso!” olhava dentro daquela sala e via cruzes, bonecos, pedaços de animais mortos, iguais aos que tinha visto antes na Calhe das bruxas em La Paz, só que aqui colocados em pacotes, ou em cumbucas já preparadas para as oferendas serem deixadas no topo das montanhas.
O Xamã pediu que eu fechasse os olhos, a fumaça produzida pelo cachimbo entrava pelas minhas narinas, até que ele colocou um véu branco sobre meu corpo e cantava uma música indígena, não consegui ficar com os olhos fechados, queria bisbilhotar o que se passava, vi o vulto do Xamã dançar ao meu redor, que me fez lembrar o Xamã do filme “The Doors” ao ritmo de uma espécie de chocalho que carregava em uma das mãos, em alguns momentos o Xamã colocava a mão sobre minha cabeça e começava a orar a Pachamama... Até que abriu uma Cusqueña, tomou uns goles, agitou a garrafa, jogou um pouco pros Deuses, espirrou um pouco em mim, tomou mais um pouquinho até que tudo acabou, rapidamente como um passe de mágica tirou o véu e disse que tudo estava resolvido, que podia abrir os olhos, que meus pedidos seriam atendidos, desde que eu guardasse as pedras e as moedas durante a viagem, em seguida pediu um donativo pelo ritual, dei 20 bolivianos, era o que tinha no bolso, ele não gostou muito, mas... Guardei comigo as oferendas e continuei meu caminho, na verdade não senti nada demais durante o ritual, a não ser curiosidade...
Agora era hora de visitar a Ilha do Sol e da Lua, mas essa é outra história... O fato é que durante toda minha jornada até o Caribe, nenhum dia choveu... E por todas as cidades que tenho passado a lenda vem se repetindo, não chove, e, depois de alguns dias após ter deixado as cidades fico sabendo que ocorrem chuvas colossais, assim foi em Manaus, Georgetown e por outros lugares que passei... Valeu Xamã, você é o cara!
Marcelo Nogal



A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS
1º CATEDRAL E CALVÁRIO
2º ISLA DEL SOL
COMO CHEGUEI: MICRO QUE SAI DO CEMITÉRIO DE LA PAZ (5HS DE VAIGEM);
ONDE FIQUEI: UTAMA HOTEL - (40 BLS);
O QUE COMI: COMI UMA TRUTA ÀS MARGENS DO LAGO TITICACA (25 BLS);
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ E DE BARQUINHO ATÉ A ISLA DEL SOL;
PRA ONDE FUI: PEGUEI UM ÔNIBUS PARA PUNO (SAI ÀS 13HS);
DICAS: OS MORADORES DA ISLA DEL SOL COBRAM TAXAS DURANTE SUA CAMINHADA PELA ILHA;