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Relato Machu Picchu

MACHU PICCHU

ÁGUAS CALIENTES - CAMINHO INCA

 

Atualmente você precisa agendar com vários meses de antecedência sua jornada de 4 dias pelo caminho inca, muitos viajantes que chegam em Cusco fazem a trilha alternativa de 5 dias de Salkantay... E se prepare para desembolsar uma boa quantia de grana, porque não é barato chegar caminhando em Machu Picchu, velhos e bons tempos quando paguei 54 dólares para fazer a trilha construída pelos incas:

 

No primeiro dia fizemos uma caminhada leve pelos vales que entrecortavam os Andes, esse era o primeiro impacto na relva. Sentia qual era o ritmo do guia, dos outros companheiros de trekking, mastigava as primeiras folhas de coca e oferecia algumas para as montanhas mais altas da região, fazíamos poucas paradas, os robustos porteadores seguiam na frente carregando na corcova imensos sacos com os alimentos e barracas para o nosso acampamento.

 

Os porteadores sempre chegavam primeiro e montavam todo o acampamento, depois preparavam a comida, a primeira foi: atum no abacate e algumas bananas... Logo escureceu, e, exaustos sentávamos em grupos, trocávamos experiências culturais... Não foi fácil dormir naquela barraca, amontoado com mais três mochileiros (Um coreano, um israelense e um escocês), mas logo amanheceu e bem cedinho já nos preparávamos para o segundo dia do caminho inca, as pernas doíam, eu não era um especialista em trilhas, não passava de um marinheiro de primeira viagem que arriscava sua vida em uma aventura nos Andes!

 

O segundo dia foi o mais pesado, subimos dos 3600 metros até os 4200 metros de altitude, víamos as nuvens abaixo de nós, e, com o amanhecer do dia, elas subiam até nós e se dissipavam no céu... Depois a paisagem ficava linda, com os cânions, montes nevados, a trilha beirando o precipício e o formigueiro de aventureiros que subia a montanha, o caminho era íngreme não acabava nunca, muitos iam ficando pra traz, encostados no paredão... Ao chegar no topo desabei no chão e lá fiquei cerca de trinta minutos descansando, ganhei como recompensa do guia Xavier duas laranjas, mas estava faminto depois da causticante subida, ainda bem que eu tinha trazido uma caixa de bombom, a devorei em segundos, mas o segundo dia só estava na metade...

 

Xavier disse para descermos a montanha, quase não o via, quando isso acontecia era porque todos estavam na minha frente. Não andava desesperado pela trilha, e não estava com pressa para chegar, ia curtindo a paisagem, agora seria uma descida intensa até os 3400 metros, nesse momento encontramos com o verdadeiro caminho feitos pelos incas, os degraus eram enormes, o que causava uma grande dor na batata da perna, devido ao esforço da descida infinita, passávamos por algumas ruínas, pontos de controle, fortes, que foram todos construídos estrategicamente pelos incas para defender o santuário de Machu Picchu, após a descida, mais uma nova parada para o descanso, nesse segundo dia, depois da sopa e da pipoca, desmaiei, estava exausto, nem percebi que a noite os termômetros marcaram -1 Grau Celsius!

 

Pela manhã, o caminho inca estava coberto de gelo, rapidamente seguimos pela trilha tomando cuidado para não escorregar, entramos na relva andina, esse terceiro dia era o mais lindo da trip, ora a paisagem era esverdeada, ora florida. A caminhada foi mais light, nem percebemos e já estávamos no saguão, onde todos os grupos se reúnem, tomavam cerveja, cantavam e comemoravam o final da grande caminhada...

 

No último dia faltava pouco, cerca de quatro quilômetros para chegar às ruínas de Machu Picchu, desta vez deixei o grupo seguir seu caminho, disse a Xavier que daqui para frente estava por conta a neblina cobria todas as ruínas, fiquei no mirante, naquele local dos cartões postais tradicionais de Machu Picchu, fiquei esperando a neblina levantar, cerca de duas horas foi suficiente, para me encantar com a paisagem que tanto esperava, emoção que só sente, quem fez o caminho inca, exausto, encardido, com o corpo dolorido, mas lá estava eu, olhando para Machu Picchu, tinha conquistado meu objetivo. A máquina fotográfica, daquela circunstância, era uma antiga com rolo de filme (36 poses) e restava apenas uma foto, não sabia se ia queimar, se ia sair tremida, não tinha o Hubble, aguardei alguém passar para tirar a tal foto derradeira e desci correndo para aproveitar o sítio arqueológico, atualmente os arqueólogos reconstruíram muitas partes do sítio, visitei o relógio solar, dividia espaço com as lhamas, até que resolvi descer para a estação de Águas Calientes, tinha duas opções: pagar cinco dólares e descer em 10 minutos até a estação em um ônibus, ou ir caminhando por cerca de 60 minutos até a estação. Achei aquele preço absurdo, em protesto fui  caminhando, cruzei a ponte do rio Urubamba, e cheguei exausto na estação!

 

Atualmente todo mundo vai sentadinho e o trem é chique, na minha trip o trem ainda era um caos, fomos em pé, porque o trem era o mesmo que transportavam os nativos, as cholas voltavam sentadas no chão comendo milho com seus dentes de ouro, a viagem durou cerca de cinco horas até Cusco, saímos de Águas Calientes as 16Hs... Chegando na cidade ainda tinha forças para bailar por mais uma noite no Mama África com as espanholas que tinha conhecido na trilha, no tempo em que o Pub era simplório, apenas um reduto alternativo de mochileiros...

 

Depois de dois meses consegui juntar dinheiro para revelar as fotos, então descobri como ficou a única foto que tirei de Machu Picchu...

 

15 ANOS EM MACHU PICCHU - UMA AVENTURA NO PERU!

(histórias são feitas pra serem contadas)

​Estava no quarto dia do caminho Inca, mega ansioso para alcançar as ruínas míticas de Machu Picchu! Nos últimos seis meses, todas as noites sem exceção, eu ia dormir só com um pensamento na cabeça: "A chegada em Machu Picchu!" Essa viagem acontecia em 1998! Como era o mundo em 98? Eu sei, porque Machu Picchu até hoje não sai de my mind: Um real valia um dólar, não existia Celular, a Internet engatinhava, a IG discada era a revolução, O Google Maps não existia, máquina fotográfica digital nem pensar... A única informação que consegui sobre Cusco foi num Livro no Memorial da América Latina em espanhol de 1940!

O caminho Inca + a entrada em Machu Picchu + trem Azul custava 50 dólares naquela década... Estava com uma máquina fotográfica emprestada, tinha comprado um filme de 36 poses, e faltava apenas uma foto para ser batida!!! Tinha que ser eu e Machu Picchu!

​Cheguei no fim da trilha, uma nuvem espeça cobria o vale sagrado! Não! Não ia descer, até poder registrar esse momento histórico, até que depois de duas horas de insistência, recebi o prêmio: as ruínas incas de desvelaram, que imagem inesquecível, era uma visão tridimensional do vale: o Rio Urubamba lá embaixo margeando as duas montanhas Wayna e Machu Picchu, e lá no cume no meio daquele verde denso, as pedras sobrepostas deixadas por uma civilização perdida davam contornos exóticos, retas, paralelas cinzas num vale circular...

Ai veio o desespero, alguém para tirar a última foto pelo amor de Pachamama, self não existia nem nos filmes de ficção científica então tinha que esperar, até que apareceu uma velinha... Meio que no impulso das emoções, pedi pra aquela senhora... Depois me arrependi: "não treme vovó, não tremeeeee..." "Click"... Foi um clique pra eternidade... Não dava pra ver o resultado e muito menos saber se a foto havia queimado... Tinha que revelar o negativo... Ohh Angústia!

Desci correndo até as ruínas incas, foi tudo muito rápido, tocar as pedras ancestrais, sentir o cuspi da lhama na minha cara... Rapidamente fui até a estação de trem de Águas Calientes e no meio do povo dos Andes, que comiam batata com seus dentes de ouro e riam de mim depois de fazer uma piada em Quéchua... Voltei a Cusco, nem tive tempo para me despedir daquele lugar sagrado...​

Chegando em Cusco, fui direto ao Mama África... Fedido e sujo após quatro dias de caminhadas para comemorar a conquista, quando cheguei, na entrada a balconista me olhou e deu um grito de êxtase: "Ricky Martinnnnn, você pode entrar de graça!" carimbou no meu braço: "free" Eu disse: "Você fumou alguma erva andina? Eu não sou o..." "É simmm... Rickyyyyy" Tirou um pôster do cantor debaixo da mesa e me mostrou, dai pensei... "Deixa pra lá! Aceita que dói menos..." A cada hora ela me trazia uma dose de pisco cortesia e gritava "Rickyyyyyy!"... Já madrugada adentro, com os primeiros fechos de luz surgindo nas estreitas ruas de pedra da cidade, eu dava o último beijo, o da despedida em Florência, minha efêmera namoradinha espanhola, nunca mais voltaríamos a nos ver... Assim são feitas as viagens: paixões intensas de alguns dias... Na rodoviária peguei o ônibus de volta pra casa, ainda filosofando com o carimbo em meu braço, que teimava em não sair "Free"...

Se passaram quinze anos... Abri minha gaveta, tirei a camisa empoeirada, a que tinha usado no dia da chegada em Machu Picchu, também tirei a mesma touca, as coloquei na Red House (Mochila Vermelha) e parti novamente rumo às ruínas Incas...

Antes de voltar para Cusco, passamos em Oruru para assistir o carnaval Boliviano, na chegada à cidade disse ao tio Nelson: "Tira a carteira do bolso e guarda na mochila, que esse lugar é mega perigoso, batedores de carteira nível hard..." Assim fizemos, fomos ver o carnaval, era lindo observar a cultura condoreira passar diante dos nossos olhos, a mitologia andina e seus sons e tons... Fomos comer um lanche, uma empanada, na hora de pagar a conta tirei a carteira da Red House, paguei e distraído com a conversa, meio inconsciente, coloquei a carteira no bolso da calça, depois de cinco minutos lembrei da besteira que fiz, coloquei a mão no bolso e disse chateado: "Tio Nelson, Los Hijos de Puta, roubaram minha carteira!" Não deixava dinheiro, mas os documentos estavam todos lá... Informamos um policial local, que nos levou a delegacia, tínhamos que caminhar junto aos foliões para chegar até lá, os borrachos fantasiados de Urso, não perdiam tempo e jogavam água com espuma na minha cara... Cheguei na delegacia ensopado... Não podia mais ir pro Peru, sem documentos... Missão Machu Picchu 15 anos Abortada... Que Raiva... Que Ódio... Meu olho tá ardendo!

​Depois de 6 meses, com RG novo, eu e o Chukachuka desembarcávamos no vilarejo se Santa Thereza, no Peru... Eu sou mega insistente... Íamos seguindo os trilhos do trem azul, no meio da relva, sobre o estridente som do rio Urubamba, caminhando do seu lado sentia toda sua truculência diante da natureza, era selvagem... Começou a chover e forte, disse: "Chuka, coloca a capa de chuva!" "Que Capa?" "Não acredito que você não trouxe, Cabrón!" e do nada surgiu uma Chola do meio do mato gritando: "Capa, Capa! 5 soles... Capa! Capa!" comprou uma capa horrorosa pink e verde, seguimos assim por seis quilômetros até chegar à Águas Calientes... Arrumamos uma pousada bem vagabunda para passar aquela noite, não tínhamos levado sabonete, toalha, nada... Tomamos banho usando pasta de dente e fizemos a fronha do travesseiro de nossa toalha... ​

Bem cedinho, disputando corrida, subíamos a montanha até o vale sagrado Inca e depois de 15 anos lá estava eu novamente em Machu Picchu, dubiamente sem fôlego, mas nem parei para sentir as ruínas, meu coração palpitava pra outra direção: O da última fotografia, tirei da Red House a camisa, a touca, o Chukachuka seria a vovozinha... Agora com câmera digital, essa não iria falhar... "Click"... Foi o segundo clique pra eternidade...

Quinze anos entre uma foto e outra, quinze anos de Machu Picchu! Aquele local são mais que ruínas míticas, é a minha metáfora, personificação do meu estilo de vida por 15 anos... Um "free" carimbado no braço que nunca se apagou... Inenarrável sentimento!

Marcelo Nogal

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A MISSA DO MOCHILEIRO 

 

QUANTO TEMPO FIQUEI:  5 DIAS

1º CAMINHANDO PELO CENTRO HISTÓRICO

2º E 3º MACHU PICCHU

4º OLLANTAYTAMBO

5º VISITANDO AS OUTRAS RUÍNAS AO REDOR DA CIDADE (PISAC - SAKSAYWAMA E CHINCHERO);

COMO CHEGUEI: ÔNIBUS NOTURNO DE PUNO (8HS DE VIAGEM); SEGUNDA VEZ: ÔNIBUS DE PUERTO MALDONADO (17HS DE VIAGEM)

 

ONDE FIQUEI: HOSTEL RESIDENCIAL WASIYKY; (20 REAIS A DIÁRIA)

 

O QUE COMI: COMI LOMO SALTADO EM RESTAURANTES PERTO DO TERMINAL E NO MERCADO MUNICIPAL; (10 SOLOS A REFEIÇÃO)

 

COMO ME LOCOMOVI: POR CUSCO A PÉ, PARA IR A OUTROS VILAREJOS (CHINCHERO, PISAK E SAKSAYWAMA) POR AGÊNCIA - BUS IDA E VOLTA; PARA MACHU PICCHU PEGUEI O MICRO PARA STA TERESA ( 6HS - 35 SOLOS) E CAMINHEI OS 8KMS (2HS) NA TRILHA AO LADO DOS TRILHOS ATÉ ÁGUAS CALIENTES, DORMI NO HOSTAL QUÉCHUA - POR 25 REAIS, BEM CEDO

SUBIMOS A PÉ ATÉ MACHU PICCHU (1H), DEPOIS VOLTAMOS TODO O CAMINHO PARA CUSCO,

SÓ QUE DESCEMOS EM OLLANTAYTAMBO E DORMIMOS UMA NOITE LÁ, NO HOSTEL SAMANAPAQ

(20 REIAS), DEPOIS PEGAMOS OUTRO COLETIVO ATÉ CUSCO (20 SOLOS); DEIXAMOS AS MOCHILAS

MAIORES NO HOSTEL DE CUSCO; QUANDO FIZ O CAMINHO INCA CONTRATEI UMA AGÊNCIA, MAS ISSO FAZ MUITO TEMPO E MUDOU TODO O SISTEMA DE VISITAÇÃO; (SUBIR DE ÔNIBUS DE ÁGUAS CALIENTES ATÉ MACHU PICCHU: 5 DÓLARES) O TREM DE CUSCO PARA MACHU PICCHU CUSTA CERCA DE 100 DÓLARES IDA)

 

PRA ONDE FUI: PEGUEI ÔNIBUS NOTURNO PRA AREQUIPA (14HS DE VIAGEM);

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