Relato Santiago
PARA QUE CONTRARIAR?
A pé seguíamos pelas ruas de Santiago, carregando as malas pesadas. Chegamos ao hotel da senhora Glades, não é bem um hotel, mas sim uma pensão, logo fomos atendidos, uma senhora gorda de vestido verde, com seu cabelo cor de baunilha repleto de laquê. Depois da pechincha a pousada ficou por 10 mil pesos... Eu tinha de pegar os 10.000 dividir por 600 para saber o valor em dólar e depois dividir por dois para saber o valor em real, uma conta fácil é rápida para se resolver em minutos, vou começar a andar com uma calculadora...
Outro detalhe: é bom tomar cuidado com o money, as notas de 1.000 e 10.000 pesos são muito parecidas, é tanto zero, que é perigoso se confundir na hora de pagar algo como eu fiz...
Resolvemos sair à noite para dar uma voltinha pela cidade, caminhávamos pela Av. O’Hoggins chamada na capital de ‘Principal’ que cruza o centro da cidade de cabo a rabo, uma das linhas de metrô chilena foi construída debaixo dela, caminhando algumas quadras chegamos à Paseo Ahumada, a calhe mais charmosa e pulsante de Santiago, exclusiva para pedestres, podemos sentar em um dos bancos da calhe e espiar o cotidiano deste povo latino, sempre do seu lado algum senhor estava lendo o jornal ‘Mercúrio’ comprado em uma das diversas bancas de jornal, que também são muito estranhas por aqui: parecem uma guarita, fica encoberta de jornais e revistas, onde lá dentro só cabe o jornaleiro e a caixa registradora, só é possível ver seus olhos do lado de fora, tamanha a finura da estrutura da banca!
O comércio de camelôs dá dinâmica a rua, crianças passam tomando sorvete, vou vendo os espetáculos de rua, os chilenos caminhando com seu sobretudo negro, chapéu e bota, seguem para as cafeterias da Ahumada, o sereno começa a cair, me imagino numa Londres de sotaque castelhano. Parece eu os chilenos é o povo mais estiloso na América Látina.
Continuo andando, chego até uma feirinha de artesanato, bem no começo da Avenida Pio Nono, aquilo estava mais para uma feira hippie do que para artesanato chileno, a avenida é repleta de bares, semi-iluminados com velas sobre a mesa, achei o local muito turístico e voltei para o centrão... E por esses caminhos, passei em frente de um estabelecimento... Parecia um bar, lanchonete ou sei lá o quê... Diminui os passos e fiquei olhando aquele local do lado de um ponto de ônibus da Principal, o bar ficava meio escondido, despercebido, um buraco no chão, devia ser no passado um porão... A porta de entrada e a visão do bar do lado de fora me lembrava àqueles filmes de velho oeste, homens primitivos tomando cerveja em um Saloon, me imaginei como Jone Ringo e cheio de vontade, não resisti e entrei naquele bar...
Todos os ‘bárbaros’ que lá estavam pararam o que faziam e me olharam... Homens musculosos, barbudos e cabeludos pararam de tomar cerveja e me olharam com rispidez. O garçom que tinha mais de dois metros de altura e de muque quarenta, com cara do Brutos já apontou onde eu deveria sentar... Para que contrariar? Fui... O sofá e a mesa de mármore vermelho estavam colados na parede, sentei... Lá veio o garçom bigodudo, cara de queijo e cabelo escorrido pelo rosto, a primeira coisa que disse foi: ”¡Yo no hablo otra Lenguaje!” “Yo tampoco!” “¿Cerveza?” “Sí.” Para que contrariar (parte 2)?
Encontrar um lugar mais típico do que este acho que seria impossível, os grandalhões voltaram a assistir a pequena TV enfiada no meio das garrafas de whisky: uma partida de futebol, sentados do lado do balcão, vibravam feito loucos, como também bebiam muito, a cada gol perdido o balcão levava varias pancadas, na partida o Colo Colo enfrentava outro time que não consegui identificar o nome e nem ousei perguntar, usavam um uniforme todo laranja; na mesa do lado um casal de velhinhos curtia à noite, ora fumando, ora se beijando, comendo um x-burguer e assistindo o jogo... E lá vinha o garçom bigodudo com a copão de chope, tinha pedido cerveja, mas não parecia negócio reclamar, o mesmo colocou o copo com tanta força sobre a mesa, que metade do chope saltou para fora do copo e o garçom continuava com o mesmo ar sisudo, deixando a conta sobre a mesa... Para que contrariar (parte 3)?
E quando o Colo Colo fez um gol os frequentadores do bar se explodiram em emoção, até eu fui abraçado, tanto eu como os velhinhos, o velhinho tentou salvar sua namorada, mas foi em vão, a tchutchuca recebeu amassos e lambidas de todos os lados... O garçom bigodudo abriu o sorrisão pra mim, faltava alguns dente, disse “Hinchada querida!” “Si! Si!” Para que contrariar (parte final)
Marcelo Nogal

A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (CAMINHANDO PELO CENTRO DA CIDADE E PELO PARQUE SAN CRISTOBAL)
COMO CHEGUEI: AVIÃO DE SÃO PAULO ATÉ SANTIAGO (HÁ ÔNIBUS ATÉ O TERMINAL RODOVIÁRIO - 10 REAIS - A CADA MEIA HORA) ;
ONDE FIQUEI: DEIXEI A MOCHILA NO GUARDA VOLUME DO TERMINAL RODOVIÁRIO, CONHECIA A CIDADE DURANTE O DIA E EMBARCAVA À NOITE PRA OUTRA CIDADE;
O QUE COMI: COMI PÃO E QUEIJO, BOLACHAS QUE COMPRAVA NOS MERCADOS (GASTAVA 10 REAIS POR DIA);
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ, MAS HÁ UM BOM SERVIÇO DE METRÔ QUE TE LEVA PARA OS PRINCIPAIS ATRAÇÕES DA CIDADE;
PRA ONDE FUI: PEGUEI ÔNIBUS NOTURNO PRA SAN PEDRO ATACAMA (18HS DE VIAGEM) HÁ SAÍDAS
PELA MANHÃ - 3600 PESOS;