Relato Torres del Paine
Um mochileiro adverbiando solitariamente no circuito W
Era verão de Dezembro na Patagônia Chilena, estava sozinho no terminal rodoviário de Puerto Natales, aguardando o ônibus para Torres Del Paine... Tomava um Carmenere esperando o momento mais aguardado da viagem, realizar meu retiro espiritual no meio das montanhas nevadas dos Andes...
Queria um tempo para pensar na vida, pensar em novos recomeços, encontrar a paz e o equilíbrio entre o coração e a mente, e, eu acreditava que conseguiria realizar esse objetivo fazendo essa jornada selvagem pelas Cordilheiras, livre me encontraria com o grande homem interior... Porém estava preocupado... Já tinha feito várias trilhas antes, mas nunca sozinho e por tantos dias (cinco)... Por mais que colocasse na Matrix só o básico, os alimentos para cinco dias deixavam a mochila mais pesada... Eram 17 quilos nas costas... Eu não sou nenhum jovem... Então não sei se aguentarei essa travessia... Mas estava decidido a tentar... Essa era minha filosofia de vida: “Sempre tentar e nunca desistir!” Por ser inexperientes e estar sozinho decidi fazer o circuito W, li muitos relatos de quem fez o circuito O e achei que não valeria à pena, mesmo a alma não sendo pequena...
Tomei o último gole de vinho e com o slogan na cabeça “tentar, tentar, tentar” subi no ônibus, a viagem foi tranquila e de certa forma rápida... Já a entrada do parque é muito demorada, eles são muito rigorosos e só deixam você entrar se tiver as reservas dos campings feitas, ou se tiver ainda alguma vaga disponível em um dos campings, e, nessa época das férias é quase impossível achar uma vaga disponível... Então planeje muito bem o que pretende fazer e reserve com bastante antecedência pela internet o local que vai acampar (dependendo do camping os mais baratos custavam de 8 a 15 dólares).
Então eles verificam o caminho proposto a fazer, os dias que ficará no parque e os lugares que reservou pra acampar... Depois de tudo anotado, tudo verificado fui liberado para a grande aventura... O ônibus nos leva até o porto de Pudeto, de lá sai um Catamarã, que cruza o lago Pehoe e te deixa em Paine Grande, onde se faz o circuito W no sentido contrário, depois o ônibus segue para a entrada do parque principal, que se inicia o Circuito W.
Escolhi a primeira opção, acreditava que seguir o caminho oposto aos dos trilheiros seria mais interessante, mais tranquilo pra mim... Essa era segunda tentativa de visitar o parque, tinha tentado antes, mas quando chegava à Patagônia em 2011, ocorreu um incêndio na região e tive que mudar todos os meus planos...
O ferry cruzou o Lago em uma hora, ou algo assim, e a visão dos imponentes montes nevados impressionava, estava encantado e empolgado para começar a travessia... O que me incomodava era aquele barco lotado! Queria, buscava a solidão, mas logo alguém aparecia para me indagar algo sobre a Matrix... Olhava as bandeirinhas costuradas e perguntava: “Você viajou por todos esses países?” outros diziam “Eu sou desse país!” Isso seria uma constante durante a trilha, alguns paravam de fazer a caminhada para fotografar minha mochila, ou admirá-la...
Chegamos à Paine Grande, passava das 13hs... E o primeiro dia seria um divisor de águas pra mim... Pretendia caminhar os onze quilômetros com a Matrix no lombo até o acampamento do Lago Grey, depois voltaria para Paine Grande no próximo dia e avaliaria minha condição física, se daria sequência ao circuito W, ou desistiria, para me preparar melhor para uma nova tentativa... Então não tinha muito tempo a perder... Tinha metade do dia pra caminhar e chegar ao camping antes de escurecer... E pra quem viaja sozinho tudo é mais complicado: fotografar, filmar... Eu perco muito tempo documentando a viagem, tenho que montar o tripé (Hubble) programar, fotografar, sair correndo e contracenar... Se sair errado tenho que tentar tirar a foto novamente! Pra filmar o mesmo ocorre: caminho, volto e desarmo todo o tripé...
O Hubble pesava um quilo, os equipamentos eletrônicos três, a barraca um quilo, kit de sobrevivência (capa de chuva, faca, lanterna, pederneira, fogareiro, gás, analgésicos, corda, óculos, mapa, papel higiênico...) mais um quilo, de alimentos levava sete quilos, as frutas eram as que mais pesavam, e tinha a água dois litros... E mais dois quilos com algumas peças de roupa. Esse era todo o peso da cruz que tinha que carregar durante os cinco dias.
Ventava muito e mesmo no verão, fazia muito frio em Paine, o clima sempre será hostil na Patagônia, então a temperatura mudava drasticamente e muito rápido no meio das montanhas, em poucos minutos as nuvens acinzentadas cobriam o céu azul e começava a chover, tinha que parar e colocar a capa de chuva, nada de hipotermia, mas depois de subir e descer algumas montanhas a chuva parava e o céu voltava a ficar azulado, tinha que tirar a blusa pra não suar, aquilo também era um perigo, eram esses momentos que aproveitava pra fotografar...
Na primeira parte do caminho cruzamos um vale, em que as montanhas cresciam dos dois lados da trilha, aquele local parecia um leito de um rio antigo que havia secado, à medida que caminhava o cânion se alevantava, então a trilha se tornava um refugo para o vento, que vinha de encontro comigo no refluxo, era gelado e socava meu rosto constantemente, posteriormente rachando meus lábios... Então as árvores dessa região eram secas e sem folhas devido ao vento, do lado direito da trilha, quando as nuvens se dissipavam aparecia o belo Cerro Paine Grande com seus 3030 mts de altura, nesse momento a trilha começava a se elevar gradativamente e continuamente, já começava sentir os 17 quilos da Matrix interagir com meu corpo...
A subida me levou para fora daquele cânion e lá de cima a primeira vista de tirar o fôlego, estava do meu lado esquerdo o mirante do lago Grey e ao fundo o Cerro Pingo... Foi um momento para sentar, aliviar as costas e admirar o horizonte... Foi o primeiro momento da trilha que dei conta, que estava passando pelo processo de transformação, que já tinha embarcado naquela metamorfose, mas ainda não curtia aquela jornada em sua plenitude, estava tenso e preocupado, a pergunta era a mesma “Será que vou conseguir?” Mas a natureza imponderável veio me tirar das reflexões com uma chuva repentina, borá colocar a capa novamente e seguir pela trilha...
Depois de cruzar uma ponte, seguia margeando de um lado o Rio Olguin e do outro lado o lago Grey... Essa parte da trilha era mais tranquila, com poucas subidas, até o ponto em que avistei o Cerro Zapata, e comecei uma descida... Já havia caminhado por horas e o peso nas costas já incomodava um pouco... Percebi que teria que organizar a Matrix de outra forma, para deixar o peso equilibrado, como também ajustar melhor as alças da mochila e fazer contrapeso na parte da frente, criando uma espécie de pêndulo entre meu corpo e as mochilas...
O clima só piorava, ventava mais, chovia mais, esfriava mais e a paisagem deixava de ser tão bonita, começou a ficar mais cinza, tinha algumas pedras soltas pela descida, então me concentrava em cada passo, sempre com atenção para não escorregar... Até que avistei o Glacial Grey! Estava chegando... Só bastaria descer mais um pouco! Levei seis horas pra fazer onze quilômetros...
Rapidamente fui montar a minha barraca, a chuva parou, mas só por precaução, preferi montá-la de baixo de uma árvore com mais proteção aos ventos e chuva... Tudo foi muito tranquilo, nesse camping tinha um local para tomar banho, esse foi meu próximo passo... Depois teria que preparar o rango... A estratégia era comer os alimentos mais pesados, um enlatado que trousse foi a escolha... Mas o jantar não foi suficiente para matar minha fome de leão, ainda tive que preparar um miojo... Repentinamente escureceu, fui descansar um pouquinho para apreciar as estrelas, mas apaguei e só acordei no outro dia...
Preparei meu café e depois fui apreciar o Glacial Grey que estava a dois quilômetros do acampamento... A paisagem era linda! A água cristalina estava gelada, quase zero graus por causa da geleira, alguns pedaços de gelo, parecido com cristais chegavam até mim... O silêncio era ensurdecedor... Fiquei algumas horas ali, meditando entre as montanhas nevadas e flores púrpuras, contemplando a natureza... Entrando em contato com o planeta, no mesmo giro, na mesma calmaria... Mas tinha que voltar, a área do camping deveria estar vazia às dez horas: desmonta barraca, enche o cantil, arruma a mochila, joga o lixo... Quase tudo pronto para voltar os onze quilômetros novamente...
Soltei um dos pés do tripé e improvisei fazendo dele um bastão de trekking, dividi melhor o peso da mochila e comecei novamente a jornada, o segundo dia mais cansado que o primeiro... Esse era o grande momento da terapia, o pensamento estava todo concentrado em realizar a trilha e sobreviver, não pensava em mais nada além disso... Não havia pessoas, não existiam problemas, todo o pensamento se encadeava em passos, absorver o impacto da terra e prosseguir...
O tempo estava muito instável, o vento no segundo dia ultrapassava os 80km/h, dificultando muito a jornada, e subir a encosta do lado do lago Grey estava sendo uma grande provação, quando o vento me pegava pelas costas, ela me jogava pra frente, me transformando num astronauta de Paine, andando sem gravidade e sem peso nenhum, outras vezes o vento me chicoteava do lado da montanha e tinha que me segurar em algo, para não ser arremessado encosta abaixo, definitivamente não tive sorte pra esse trekking, os dias estavam péssimos para caminhar e apreciar a beleza local, mas eu me esforçava e nunca perdia o humor... Parava em uma fonte de água, e, beber aquela água de forma tão primitiva, me tornava mais forte, mais selvagem, pra enfrentar aquele clima hostil, me escondia atrás de uma pedra para me proteger do vento e comer uma maçã e refletir sobre a próxima estratégia pra prosseguir com essa jornada...
Depois de sete horas cheguei a Paine Grande again, um pouco cansado, minha ideia era a de caminhar por sete quilômetros até o acampamento Italiano, mas mudei meus planos, o tempo estava ruim, corria o risco de não ver nada pelo caminho e também seria inteligente ir com cautela, percorrendo o circuito W aos poucos, queria realizar cada etapa com o mesmo fôlego para admirar o local e chegar inteiro no último dia...
Tentei montar a barraca do lado da montanha, em que tivesse menos vento, mas isso parecia ser impossível naquele momento... E, montar a barraca sozinho com um vento de 90km/h foi um desafio e tanto, posso dizer que um dos maiores dessa trilha, para montá-la foi preciso uma grande engenharia: pedras enormes para segurá-la, e a cada parte que montava precisava amarrá-la com a corda, para que não saísse voando como um balão, dentro da barraca mais pedras, mesmo com o frio que fazia eu suava tentando montá-la, havia passado uma hora e ainda não havia conseguido, soltava daqui, desprendia da lá, vareta que voava, nó que escapava... Depois de prendê-la com estacas no chão, mais pedras dentro e de fora colocadas, com a entrada na direção oposta ao vento, parecia que as varetas não iam aguentar com o vento, parecia que iriam se partir ao meio com a força da natureza... Prendia a corda na vareta e a uma pedra imensa que arrastei até o meu acampamento pra tentar estabilizá-la e depois de tudo, ainda sim a barraca parecia a copa de uma árvore sacolejando, depois de quase duas horas pra montar sozinho a barraca, deitei exausto por alguns minutos... Foi quando lembrei que era véspera de Natal, fui ver que teria pra minha ceia: Pão, presunto, queijo e sopa... Nada mal, melhor impossível... Depois de descansar um pouco, decidi explorar a região, mas o vento e o frio não me deixou ir muito longe, eu não conseguia paz para admirar o horizonte...
O inicio de Natal não começou tão bem assim pra mim, o presente do papai Noel foi um pouco indigesto, além do vendaval, começou a chover muito forte, diríamos um dilúvio, uma tempestade da peste! O vento soprava a capa molhada da barraca, que ficava encostada no tecido da tenda, o contato prolongado não dava conta do escoamento da água fazendo a barraca transpirar e por fim começar a chover por dentro dela, acordei com os relâmpagos e a água me molhando, Pachamama não me deixava descansar... Então rapidamente peguei minha toalha e tentava enxugar os locais que o tecido transpirava, abria a barraca e tentava separar o tecido da capa com o tecido da tenda, e, entrava mais água com o vento para dentro, consegui conter por alguns minutos, mas logo se formava outro ponto de gotejamento, com a lanterna ia procurando esses locais e enxugando e cantando musiquinhas de Natal, até que às quatro da manhã a tempestade deu uma trégua, eu e a barraca resistimos bravamente com o Jingle-bell, mas estava acabado fisicamente, apaguei ali sentado com a toalha na mão...
O despertador do celular tocou às 7hs... Nada de preguiça, de cansaço, desistir jamais, tinha quatorze quilômetros para percorrer naquele terceiro dia de Circuito W, olhei no espelho e vi os olhos inchados, olheira, cara de acabado, lavei o rosto e lembrei do Slogan “tenta, tentar, tentar”...
Enquanto o café esquentava, encontrei meu gorro de papai Noel dentro de um dos compartimentos da Matrix e “feliz Navidad!” Vamos sorrir pra vida! Agradecer aos céus por estar nesse lugar hostil, mas maravilhoso... E como tocar a mão naquela caneca de café quentinha era maravilhoso, ver aquela fumacinha emergindo da caneca era revitalizante. Ahhh, o cheiro do café! Era tudo o que eu precisava pra voltar a ser feliz e continuar encarando esse desafio... Tive que guardar a barraca molhada mesmo, não tinha tempo pra secá-la! Botei o gorro na cabeça, a Matrix nas costas e continuei minha jornada...
O tempo parecia ter estabilizado naquele dia, a paisagem era linda mesmo com o céu cinza, desci até a laguna Scottesberg, subi a montanha até chegar ao Camping Italiano depois de cruzar a grande ponte de madeira sobre o barulhento rio Frances, deixei a Matrix do lado da casinha de madeira, muitos deixavam as mochilas ali, mesmo com a placa de proibição, de que o parque não se responsabiliza com os pertences dos trilheiros, e, subi até o mirante do Francês, mas “Feliz Navidad!” As montanhas estavam encobertas por nuvens, e não consegui ver nada... Acontece! Voltando ao camping Italiano, peguei a Matrix, e segui até o refugio do Frances, desci até o lago Nordenskjöld e pude caminhar margeando suas águas de cor esmeralda, quando o tempo abriu podia ver “Los Cuernos!” cobertos de neve, depois desse trecho comecei a subida mais pesada da aventura, oh vida de corno! Mas naquele momento me sentia forte, acreditava que ia conseguir, um passo de cada vez, sem parar ia prosseguindo, alguns jovens iam ficando pelo caminho, ria dos chifrudos exaustos encostados em uma pedra, eu subia continuamente, fui assim, jingle-bell, até o fim da subida e de lá avistei o camping de los Cuernos, onde iria ficar, sentei exausto debaixo de uma árvore, tinha conseguido, mais um dia de circuito W, pra comemorar comi a última maçã do pecado, antes de chegar ao paraíso...
Ao chegar ao Los Cuernos, decidi por pagar 15 dólares a mais e ficar com uma barraca deles que já estava armada, estava exausto e não queria montar nada naquele dia, ainda sabendo que minha tenda estava molhada... Depois de preparar meu arroz com pedaços de frangos suculentos para o jantar e devorá-lo como um boi faminto, pra variar apaguei, seria difícil agradar as estrelas com seu espetáculo noturno...
No quarto dia a trilha era uma imensa decida, tinha que ter o cuidado para o peso da Matrix não me jogar pra frente e descer ladeira a baixo rolando e pelo tamanho da descida, fiquei muito contente, por ter escolhido realizar o Circuito W no sentido contrário, se tivesse que subir tudo isso seria uma tortura... O vento parou, a chuva parou, mas o frio chegou pra estalar os meus dentes, se aquele era o verão na patagônia, eu não estava disposto a conhecer o inverno! Mas como diz a lenda, depois de toda descida tem uma imensa subida, foi um pouco puxado, mas nada aterrorizante depois de tudo que já havia passado, apor percorrer onze quilômetros o frio era tanto que começou a gear, flocos de neve caiam sobre a trilha, mais uma dificuldade, o caminho ficou lamacento, depois de mais cinco quilômetros, já ao entardecer cheguei ao refugio Chileno, para tentar me proteger da geada, montei a barraca de baixo de uma árvore! Fiz uma gororoba de macarrão com atum e rapidamente me escondi dentro da tenda pra me proteger do frio...
A neve não parava de cair e à medida que a noite adentrava, a temperatura ia caindo mais e mais, tinha que bolar uma estratégia e rápido, senão ia acabar congelando! Tive uma ideia, coloquei duas sacolinhas plásticas do mercado em cada um dos pés e as amarrei com elásticos para reter o calor, depois coloquei as meias e a bota, essa noite teria que dormir com elas, fiz o mesmo nas mãos e na cabeça, depois coloquei as luvas e a touca, sabia que era arriscado acender o fogo dentro da barraca, que podia morrer intoxicado com a fumaça, mas tinha que correr o risco de acender a espiriteira dentro da tenda! Coloquei a água do cantil pra ferver, enquanto isso tirei tudo que tinha dentro da Matrix e fiz da mochila um segundo saco de dormir, coloquei minhas pernas dentro dela, e depois tudo que coube dentro pra me aquecer, a água quente coloquei sobre meu peito e assim permaneci abraçado ao cantil... A manhã chegou! E eu ainda não tinha morrido! Tentei abrir a tenda, mas estava difícil, quando consegui um monte de neve caiu pra dentro dela, com sacrifício sair da barraca, ela estava praticamente coberta de neve, literalmente tinha dormido dentro de uma geladeira, tudo ao meu redor estava branco: O chão, o céu, as árvores... Tentava fotografar, mas até minha Cannon havia congelado e conforme o dia avançava e o clima ia esquentando, a máquina fotográfica ressuscitava, mas mesmo assim, as fotos saiam embaçadas, fora minha dificuldade em fotografar a neve... O branco refletia pra todos os lados... Depois de tirar a neve da barraca, preparar o café delicioso e quentinho! Comecei a seguir pela trilha até as Torres Del Paine...
Logo ao sair do refugio Chileno percebi, que não seria nada fácil chegar às Torres, a neve tinha encoberto toda a trilha, o caminho não estava claro e o pior, muito escorregadio, cada vez que pisava na neve fofa, minha perna afundava até o joelho... E tudo isso tendo que me equilibrar com a Matrix nas costas! Havia se passado uma hora e não tinha percorrido nem um quilômetro... Sentei em um tronco para refletir, tinha um dilema: Seguir com aquelas condições até as Torres ou desistir e voltar? Naquele momento não podia seguir meu coração... Tinha que agir com razão! E por mais triste e frustrante que pudesse parecer, era prudente não continuar... A poucos quilômetros de mim estava o cartão postal do Parque, o que todos vinham ver... Mas esse era um dos aprendizados que essa jornada queria mostrar para o viajante... O importante era o caminho! Que não conhecer as Torres naquele momento, não era uma tragédia! Podia seguir de cabeça erguida, pela transformação ocorrida durante o caminho... Um dia voltarei mais experiente para tal fim... E aquele momento “Maktub” era para amadurecer nas escolhas certas... Era isso que o caminho solitário queria me mostrar... Escolhas certas e superação... Que o Slogan estava errado, o certo era “Tentar, se não der, deixar fluir” Voltei feliz no meio daquele palco branco, com muita dificuldade, parecia estar no céu, e como ele era gelado!
De volta a Puerto Natales, depois de caminhar 60kms em cinco dias, retornei à casa de Conceição, a senhora que havia me dado carona e me hospedado na cidade. Ela abriu o sorriso me vendo voltar... Na casa dela tinha uma banheira bem grandona! Depois de cinco dias, iria tomar um banho quentinho, o mais delicioso da minha vida! E depois na janta iria extravasar: comeria dois x-tudo e tomaria um litro de Coca-Cola sozinho, e, pra sobremesa uma barra de chocolate só pra mim! Descansar um pouquinho em uma maravilhosa cama macia. Ahhh, essa viagens nos faz valorizar as coisas mais simples! Mas tinha que aproveitar aquele momento de conforto ao máximo, porque, a patagônia Argentina me aguardava para o próximo desafio...
Marcelo Nogal



