Relato Sapa
ADEUS CHINA...
Estava dormindo espremido, em uma cama de ônibus leito, com um designe todo especial para chineses, imaginam o que significa isso! Eles conseguiam ver o filme numa tela plasma de 40 polegadas que conseguiram colocar dentro do ônibus, eu tentava colocar meus pés em algum espaço disponível entre minha mochila e a cama da frente. Então fui acordado por um dos passageiros, dizendo que havíamos chegado a Hekou, fronteira da China com o Vietnã!
Perguntei sobre a fronteira, disse para eu seguir reto, em dois minutos estava lá, nunca foi tão fácil chegar a uma fronteira, mas era cinco da manhã e a fronteira só abre às 9hs, detalhe era 1 de janeiro... Belo réveillon!
Fui para uma pousada mixuruca e lá fiquei descansando e de certa forma me despedindo da China, a travessia foi muita tranquila, sem revistar a mochila, ou outros empecilhos aduaneiros, mas ao atravessar para o outro lado do rio, tudo mudou da água pro vinho, já na entrada me ofereciam câmbio, a quantia de números na moeda do Vietnã, o Dong, me enlouqueceram, muito zero para um Nogal só...
Tanto que na primeira troca de meus Yuans sai perdendo na conversão 20 dólares, vivia um momento confuso da viagem, o motoqueiro me cobrou 100000 para me levar até o terminal rodoviário de Lao Cai e o motorista da Van, 300000 mil para me levar até Sapa... Tinha perdido o controle de quanto estava pagando e se estava levando golpe dos motoristas...
As ruas não eram mais organizadas, as buzinas das motos tocavam sem parar, o motorista da Minivan dirigia como um louco por uma estrada sinuosa no meio de uma neblina infinita, os monte de zero não saiam da minha cabeça, uma garota do meu lado vomitava num saquinho, depois de cada curva, dava para a cobradora que jogava o Ugo na estrada, nas camisas das lojas a frase: Good Morning Vietnã!
Estava realmente em outro país, mais uma garota vomitava, agora a do banco da frente, pela cara dos outros passageiros toda aquela situação parecia normal, mas um saquinho lançado janela ao vento, sorte que rapidamente cheguei a Sapa e lá senti ainda mais a diferença...
A Internet é para todos, nada de Youtube, Blogger bloqueados, nos restaurantes tinham menus com escrita ocidental, que alívio, agora eu sabia o que ia comer! Logo escolhi o prato tradicional da cidade: porco da índia assado e fatiado com tomate, por 100000 Dongs, que agora um pouco mais acostumado com as conversões sabia que o almoço custava nove reais, e, vejam que incrível, trouxeram garfo! Não, recusei, ia comer de pauzinho, só de raiva!
A China mudou algo em mim... Deve ser os olhos! Os turistas olhavam assustados o selvagem que comia como chinês, sim, aqui não estava sozinho, vários turistas se espalhavam pelas ruas de Sapa, a vida de celebridade havia acabado, eles não ligavam mais pra mim, agora eu podia ter um olhar onisciente de viajante, notar o comportamento do garçom, da cobradora da Minivan... Antes, na China, se alguém estivesse vomitando, pelado na Minivan, seria algo normal, sem importância, mas um barbudo narigudo era coisa de outro mundo! Na China era impossível observar, com dez te olhando e sorrindo pra você a todo instante e detalhe: aqui em Sapa todos os moradores sabem o que significa "bus Station", até maconha me ofereciam pela rua principal da cidade... Good Morning Vietnã!
Já estou me sentido novamente em casa, agora posso voltar a ver o mundo da Internet, mas nada posso ver de Sapa, a cidade o dia inteiro esteve coberta com uma forte neblina, que encobria todas suas belezas naturais, a neblina dava um tom de “Silent Hill” á cidade, andando pelas ruas apenas via vultos, sombra de pessoas que andam pra lá e pra cá com as cestas nas costas, como gatos assustados, as luzes embaçadas de uma igrejinha ao fundo me servia de direção.
Para aumentar esse tom sinistro, o hotel que estou hospedado se parece com a casa do Coringa, ao começar pelas escadas de carpete vermelho, velho e sujo que vão serpenteando o hotel e na parede imensos espelhos desbotados, o carpete do quarto cheira a chulé, no quarto não tem iluminação, mesmo de dia, ele consegue ser escuro, a lâmpada do banheiro é laranja tirado de algum abajur infantil, a cama parece da cinderela com antigas decorações de renda dourada, que ficam na parte superior da cama. O fato é que se essa neblina não cessar, amanhã parto pra Hanói, torcendo para o tempo mudar, para poder fazer as trilhas pelos vilarejos cercados por terraços de cultivo de arroz... E finalmente amanhã será o primeiro dia da viagem que não preciso acordar cedo...
Marcelo Nogal



A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (FAZENDO TRILHAS PELA REGIÃO);
COMO CHEGUEI: MOTO TÁXI DA FRONTEIRA DA CHINA ATÉ LAO CAI DEPOIS MICRO (4HS) ATÉ SAPA;
ONDE FIQUEI: THANH SON HOTEL - 15 DÓLARES;
O QUE COMI: COMI ARROZ COM CARNE DE PORCO; (5 DÓLARES)
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ;
PRA ONDE FUI: PEGUEI ÔNIBUS NOTURNO PARA HANÓI;