Relato Cusco
FASE DARK
Vivia um momento um tanto quanto melancólico durante a viagem, em uma loja especializada em equipamentos eletrônicos tentava concertar a filmadora para o restante da viagem, não suportava a ideia de não ter nenhuma imagem além das memórias da viagem daqui de Cusco até o Caribe.
No sebo próximo ao mercado de Cusco comprei um livro de poesia cusqueña, com alguns poemas em quéchua, como minha estadia seria longa por aqui, sentava na praça de las Armas para desfrutar do livro...
Começava a ficar intrigado com aqueles poemas que retratavam a cidade, como pedra sobre pedra, ruínas sem alma... O que restava da cidade eram pedras amontoadas e turistas. Depois de filosofar um pouco voltei a Calhe Loreto e segui rumo à pedra dos 12 ângulos, a olhei com um pouco de tristeza aquela estranha figura geométrica, aquele livro tinha mexido comigo, então para acabar com as amarguras decidi ir até o Mama África, tomar uma cerveja e comer uma hamburguesa, mas mais uma vez fui embalado pelo clima saudosista...
O pub não era mais o mesmo, não tinha o mesmo glamour de um bar excêntrico dos Andes, parada de forasteiros, que chegavam famintos por essas bandas. Agora mais parecia uma luxuosa danceteria paulistana feita para turistas! A fama transformou o local, pedra sobre pedra...
No outro dia fiz um tour rumo às ruínas que cercavam a cidade. A primeira parada foi Sacsayhuaman, via a imagem da fortaleza, o tamanho das pedras, muito turistas tirando fotos... Mas e os cusquenhos, as pessoas que ergueram esses muros, o povo local, onde estavam?
Depois chegamos a Pisac, mais pedras entrepostas, depois de ter conhecido Machu Picchu, tudo se reduzia, não que não fossem paisagens deslumbrantes: as formações rochosas, as pedras rosadas e todo aquele sitio arqueológico, mas deixe sempre Machu Picchu por último... Seguíamos a Ollantaytambo e me veio uma ideia maluca: Queria conhecer a vida no campo peruano, será que ainda seria possível? Encontrar um vilarejo perdido entre os Andes, sem turistas, longe das ruínas, em que os peruanos puxam seus burricos pelas estreitas estradas que cruzam os vales cobertos de neve. Disseram-me que sim, nas proximidades de Huancayo, onde nascerá à maioria dos integrantes do Sendero Luminoso e que agora era uma região de lamúria, com órfãos e viúvas... Sim era disso que estava falando! E entremeios a essa discussão chego a Chinchero, rapidamente visitei a igreja e fui para um bar do vilarejo, com uma bandeira vermelha na entrada, que significava: venda de bebidas alcoólicas, proibida a entrada de menores!
Sim era lá que ia encontrar o que buscava, nada de pedras... Entrei, vários campesinos rudes me olharam, estavam sentados em mesas bruscas com enormes copos de plástico repletos de chicha, na mesa batata e milho. Pedi um copo, custava alguns centavos de solo, a bebida vinha quente, direto de uma panela que fervia ao lado, os peruanos riram a me ver com o copo, deixando a amostra seus dentes dourados, fizeram um brinde em minha homenagem, e, no primeiro gole veio a ânsia... Bebida horrível, gosto de água podre, queria cuspir tudo, mas como bom Forasteiro Tupiniquim, respirei fundo e engoli para não decepcionar os anfitriões... Aiiii, Esses livros poéticos... Tinha que me livrar daquela chicha, mas como? Tive uma ideia: Subi ao ônibus, cheio de argentinos e gritei: “Chicha para todos, uma cortesia do Nogal!” após um gole de cada tripulante, escutava um gemido, um suspiro profundo, ou alguém abrindo a janela rispidamente para vomitar... Pelo menos ninguém me xingou! E na verdade as ruínas não eram tão ruins assim, talvez depois que consertarem minha câmera essa fase dark acabe...
Marcelo Nogal



A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 5 DIAS
1º CAMINHANDO PELO CENTRO HISTÓRICO
2º E 3º MACHU PICCHU
4º OLLANTAYTAMBO
5º VISITANDO AS OUTRAS RUÍNAS AO REDOR DA CIDADE (PISAC - SAKSAYWAMA E CHINCHERO);
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS NOTURNO DE PUNO (8HS DE VIAGEM); SEGUNDA VEZ: ÔNIBUS DE PUERTO MALDONADO (17HS DE VIAGEM)
ONDE FIQUEI: HOSTEL RESIDENCIAL WASIYKY; (20 REAIS A DIÁRIA)
O QUE COMI: COMI LOMO SALTADO EM RESTAURANTES PERTO DO TERMINAL E NO MERCADO MUNICIPAL; (10 SOLOS A REFEIÇÃO)
COMO ME LOCOMOVI: POR CUSCO A PÉ, PARA IR A OUTROS VILAREJOS (CHINCHERO, PISAK E SAKSAYWAMA) POR AGÊNCIA - BUS IDA E VOLTA; PARA MACHU PICCHU PEGUEI O MICRO PARA STA TERESA ( 6HS - 35 SOLOS) E CAMINHEI OS 8KMS (2HS) NA TRILHA AO LADO DOS TRILHOS ATÉ ÁGUAS CALIENTES, DORMI NO HOSTAL QUÉCHUA - POR 25 REAIS, BEM CEDO
SUBIMOS A PÉ ATÉ MACHU PICCHU (1H), DEPOIS VOLTAMOS TODO O CAMINHO PARA CUSCO,
SÓ QUE DESCEMOS EM OLLANTAYTAMBO E DORMIMOS UMA NOITE LÁ, NO HOSTEL SAMANAPAQ
(20 REIAS), DEPOIS PEGAMOS OUTRO COLETIVO ATÉ CUSCO (20 SOLOS); DEIXAMOS AS MOCHILAS
MAIORES NO HOSTEL DE CUSCO; QUANDO FIZ O CAMINHO INCA CONTRATEI UMA AGÊNCIA, MAS ISSO FAZ MUITO TEMPO E MUDOU TODO O SISTEMA DE VISITAÇÃO; (SUBIR DE ÔNIBUS DE ÁGUAS CALIENTES ATÉ MACHU PICCHU: 5 DÓLARES) O TREM DE CUSCO PARA MACHU PICCHU CUSTA CERCA DE 100 DÓLARES IDA)
PRA ONDE FUI: PEGUEI ÔNIBUS NOTURNO PRA AREQUIPA (14HS DE VIAGEM);