Relato Cartagena
É GOLPE NÉ!
Lá estava eu no terminal rodoviário fazendo as contas, os zeros da moeda colombiana eram muitos: “acho que sim!” dava pra comer o peixe... Se arrependimento matasse... Acho melhor esquecer essa parte, do terminal (É o que fica mais longínquo do centro da cidade de todos que conheci na América Latina, horas dentro do coletivo!)
Descia eu, na ponte depois do castelo de San Felipe, diante das grandes muralhas do século XV, que protegeram por grande tempo a cidade das invasões dos piratas do Caribe! Sim, estava no Caribe colombiano: céu azul, o mar bem próximo, calor dos trópicos, ahh, mas agora não... Antes tinha que adentrar as muralhas e seguir para o centro em busca de uma pousada.
As vielas históricas tinham um requinte especial: com varandas coloridas, samambaias dependuradas em vasos de barro... A mala começava a pesar nas costas, as pousadas da região central eram todas caras, depois de atravessar a torre do relógio, cansado parei de baixo de uma árvore, um pouco de sombrinha faz bem né! Foi quando imaginei ter tido uma brilhante ideia, ao lado estava o City Bank, fui até o segurança e perguntei a ele se conhecia alguém que alugava um quarto por um bom preço. O vigia sorriu e olhou para cima, segui seu olhar: sobre o banco um velho prédio se erguia, me direcionou a uma viela ao lado do banco, que procurasse dona Tatá no quarto andar.
Caminhava pela estranha viela, úmida e mal iluminada, alguns moleques esquisitos brincavam de bola, entrei no apartamento, algo muito velho, vocês não imaginam a situação do elevador! Daqueles antigões, semelhantes aos prédios da República, em Sampa, que nem porta tem, e, ao subir se escutava um rangido, e, o elevador inteiro tremia! Tinha a impressão que algum velho barbudo me esperava no quarto andar com uma faca na mão! Pensamentos de um forasteiro tupiniquim neurótico né, dá próxima vez subirei pelas escadas...
O elevador parou abruptamente! Pelo menos não tinha nenhum psicopata à espera, toquei a campainha de uma das casas e lá saiu uma senhora de óculos, na casa parecia morar umas dez famílias: crianças pulavam na varanda, no sofá jovens namorando, outros assistindo televisão, um senhor com uma toalha amarela enrolada no corpo atravessou a sala e saiu da casa, dona Tatá veio logo em seguida, pegou uma chave e me levou para a casa da porta ao lado. Aquilo era um verdadeiro pombal, quartos cercados por biombos, uma TV na sala principal e um banheiro coletivo. O preço agradava, decidi ficar ali, não tinha escolha...
Descia pelas escadas, trauma do forasteiro né, mas ao chegar ao segundo andar, a porta não abria, tive que me contentar com o elevador murmurante... Como eu já tinha ganhado um Livro de Garcia Marques, nada melhor do que ir até sua casa pedir um autógrafo, mas o poeta não estava lá, como consolo pude conhecer sua casa...
Depois o restante do dia fui caminhar pelas ameias da cidade colonial, tirar foto ao lado de canhões, andar, andar, andar pelo centro histórico e no mercado local comprar pão e presunto para a ceia, na verdade não queria voltar para o meu querido lar doce lar em Cartagena, em uma taverna tomei uma dose da aguardente local (Antioqueño) para criar coragem, mais outra para subir o elevador... Só sei que entrei tão rápido no meu biombo, que nada vi pelo caminho, assim dormi abraçadinho com minha mochila, como fazem os forasteiros amedrontados né!
Por mais experiente que o forasteiro seja, há uma grande possibilidade ao viajar de cair em algum golpe. Na verdade nem experiência tinha... Aconteceu comigo em Cartagena...
Ao amanhecer segui para a melhor praia da cidade, a de Boca Grande, cerca de 10 minutos ao sul das muralhas, caminhando e observando o comportamento colombiano nas praias, fui abordado por um vendedor de ostras, sabe como é, estrangeiros eles conhecem de longe: Espremeu o limão e me deu uma ostra colombiana para provar, em uma breve chupada experimentei a especiaria local, como não sou muito chegado a mariscos, aquela ostra não causou grande comoção, não queria comprar mais da mesma, ia continuar meu caminho, mas o vendedor indignado segurou meu braço dizendo: “Vai ter que pagar a ostra!” “Você está maluco!” “Não, não! Vai ter que pagar a ostra!” “Quanto?” “30 mil pesos!” “30 mil! Nunca!” “20 mil!” “Nunca!” a discussão continuava a beira mar, se fosse hoje não pagaria, ou chamaria um policial, mas não, para evitar problemas a discussão foi até os 8 mil pesos, valor pago, ainda caro, cerca de 10 reais por uma ostrinha e algumas gotas de limão... Keep Walking...
Cheguei a uma parte da praia de Boca Grande, em que as margens repletas de areia fazia uma curva de noventa graus, era o local preferido dos colombianos, para sentar e tomar uma cerveja, ver o horizonte caribenho, se bronzear... Fui até o restaurante da curva, pedi uma cerveja local, como também pedi que guardasse minhas coisas enquanto fosse me banhar... Quando se viaja sozinho essa é uma das estratégias, outra é pedir para um casal de velhinhos a beira mar cuidar de seus pertences...
Então mergulhei, nas águas do caribe colombiano, tinha alcançado meu principal objetivo: Sair de São Paulo e alcançar as águas caribenhas indo somente por terra! Eu tinha conseguido, mais de 30 dias na estrada e estava aqui, não era como o Caribe que via nas fotos das revistas de turismo, águas verdes cristalinas, mas não me importava, estava feliz por ter chegado onde tanto almejei, quando se faz uma viagem temos que traçar metas e tentar alcançá-las, papo de empresário né... Mas talvez mochilar seja um engenho.
Depois do golpe, tinha pouca moeda colombiana, e não estava disposto a cambiar mais dólares por pesos, ia me virar com o que tinha até o termino de minha estadia por aqui... Pão e água em Cartagena, pois logo seguiria para Maicao, cidade fronteiriça entre Colômbia e Venezuela... Tinha alcançado meu objetivo, agora precisava voltar pra casa...
Marcelo Nogal


A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (UM PARA FICAR NA PRAIA E OUTRO PARA ANDAR PELO CENTRO HISTÓRICO) ;
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS DE BOGOTÁ (16HS DE VIAGEM) - EXPRESO BOLIVARIANO - O TERMINAL FICA DISTANTE DO CENTRO (UMA HORA E MEIA) PEGUE O COLETIVO LOCAL;
ONDE FIQUEI: EM UMA POUSADA VELHA NA CALLE VENEZUELA DO LADO DO BANCO DE BOGOTÁ;
OBS. (NA MAIORIA DAS VIAGENS QUE FIZ NÃO RESERVEI HOTEL - GERALMENTE FICO NOS MAIS BARATOS, QUE NÃO TEM NOME, NEM SITE NA INTERNET)
O QUE COMI: COMPREI PÃO E PRESUNTO NOS MERCADOS LOCAIS;
COMO ME LOCOMOVI: CAMINHAVA A PÉ PELA CIDADE;
PRA ONDE FUI: PEGUEI UM ÔNIBUS NOTURNO ATÉ MAICAO DE LÁ PEGUEI UM TÁXI (FUI NA CAÇAMBA
DE UMA CAMINHONETE - ATRAVESSEI A FRONTEIRA E O MOTORISTA ME DEIXOU EM MARACAIBO - 2HS DE
TRAVESSIA) DE LÁ PEGUEI UM MICRO ATÉ CORO ( 4HS DE VIAGEM);