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Relato Baia da Traição

CRUZANDO DE BIKE O RIO GRANDE DO NORTE

Chegando a João Pessoa – Parte 3

  Novamente acordei cedo para mais um dia de travessia, o objetivo era pedalar por mais sessenta quilômetros até a Baia da Traição, esse era o projeto: sempre pedalar em torno de sessenta a setenta quilômetros por dia, nem muito, nem pouco, pra poder ir tranquilo curtindo o caminho e sem pressa, tentar chegar até o almoço no local almejado. Já na parte da tarde, relaxar em uma das praias... Até agora nada tinha saído como eu previ, mas tudo bem... Viajar é assim, uma aventura com surpresas constantes!

Os primeiros vinte quilômetros até a BR101 foram tranquilos, e, mesmo sendo bem cedo, no momento mais fresco do dia, ainda sim sentia muito calor e a sede que não cessava era o principal desafio da cicloviagem... A paisagem era monótona e quando cheguei na BR101 foi mais entediante ainda... As longas subidas, o calor do asfalto. O vento só mesmo dos caminhões fazendo a Rocinante balançar que nem papel... Depois de uma grande descida avistei uma placa azul informando a divisa de Estados. Tinha chegado, tão somente pedalando na Paraíba! Mas as boas vindas do Estado nordestino foram indigestas, uma subida de sete quilômetros até a saída para Mataraca, até nessa cidade perdida no meio do nada já existia o letreiro: “Eu amo Mataraca!” para turista tirar fotos...

Nesse trecho da viagem de dez quilômetros pela PB065 até Mataraca o meu único desejo era o de não ter mais subidas pelo caminho... Mas era só decepção e motivação ao mesmo tempo: “Eu vou conseguir subir mais essa!” “Droga outra subida!” “E Mais essa!” “Ah não! De novo não!” “E mais essa!” quando avistava uma descida: “Viva!”, até que passei por uma estradinha de paralelepípedo que me levou até a modesta prefeitura da Mataraca, uma igrejinha colonial ficava do lado, mas o asfalto de repente acabou: “Será que entrei por alguma rua errada?” Pensava. A internet aqui não pegava, pra eu tentar verificar se tinha entrado no caminho errado depois da prefeitura. Estava às escuras, até que um senhor de calça jeans surrada e um chapelão de cowboy cruzou meu caminho, aproveitei a oportunidade e perguntei: “Bom Dia, o Senhor podia me dar uma informação? Essa estradinha de terra é o caminho para a Baia da Traição?” O Senhorzinho mexeu em seu cavanhaque branco, olhou para um lado, olhou para o outro, hesitou um pouco e finalmente disse: “É sim, moço!” Agradeci, mas ainda não estava convencido, não podia ser! Estrada de terra de novo não... Como eu não tinha percebido isso quando planejei o roteiro? Não me conformava... Quando avistei um jovem caminhando na roça de terno e gravata com uma bíblia na mão, perguntei novamente: “Sim, meu jovem, este é o caminho!” “Quantos quilômetros nessa estrada de terra?” “Uns quinze, meu amigo!” É, não tinha jeito, tinha que encarar aquela estradinha, só não sabia se tinha a mesma fé do jovem engravatado com aquele calor de quarenta graus...

Por mais que estivesse quente e abafado e com meu resto de água morno, aquele trecho era o mais bonito percorrido durante o dia... Era a estradinha com cheiro de jaca, as imensas árvores cobriam a estrada, ora desviava do gado, ora as crianças que ficavam nas porteiras das fazendas me davam tchau... Parava de baixo de uma árvore para comer uma manga ou caju que ia colhendo pelo caminho.

Depois de algumas horas pedalando por aquela estrada horrível, avistei o mar da Paraíba! Que alegria reencontrar os coqueiros, me aproximei de uma nova rua de paralelepípedo, tinha chegado à Baia da Traição por volta das 14hs... Buscava desesperadamente um local pra comer, naquela hora ficava mais difícil... Depois de comer num humilde self-service até me empanturrar com moqueca de peixe que havia sobrado do almoço, encontrei facilmente um lugar para passar a noite.

A praia estava lotada de turistas, muita poluição sonora e sujeira pelas ruas... As avenidas da cidadezinha eram estreitas, então o congestionamento era intenso naquela tarde. Na verdade a praia foi decepcionante, nada de especial, tinha passado por praias e visto mirantes lindos ao longo do percurso da cicloviagem e esta era a praia mais chatinha de todas. Desmotivado voltei pra pousada com algumas latas de cerveja, liguei o ventilador na minha cara e fiquei ali descansando no final daquele difícil dia de cicloviagem...

O trecho da Baia da Traição até João Pessoa foi o mais chato de todos durante a cicloviagem pelo Rio Grande Do Norte e Paraíba... Praticamente cinquenta quilômetros foram na entediante BR101, tirando o centro histórico da cidade de Mamanguape não teve mais nada interessante pra se ver durante a travessia, no mais era a busca desesperada por água, nunca a quantidade que levava era suficiente. Tomava em média seis litros por dia durante as travessias...

Na rodoviária de Jampa, desmontei a bike, depois a embrulhei novamente com o plástico-bolha que levava no alforje e a deixei no guarda-volumes. Comprei uma passagem de ônibus noturna para Mossoró. Depois de tudo pronto peguei um coletivo até a Praia de Tambaú. Após oito anos estava novamente na capital da Paraíba, merecia tomar uma cerveja a beira mar para comemorar a façanha... Passei a tarde caminhando as margens da Praia do Cabo, revisitei o Farol, a bela Estação Ciência, projetada por Oscar Niemeyer... João Pessoa sem duvidas é a cidade mais interessante pra se viver no Brasil. Moderna e tranquila.

No primeiro momento estava preocupado se conseguiria ter uma noite boa de sono durante a viagem noturna de ônibus... Mas o cansaço venceu o medo... Dormi que nem uma pedra! Assim cheguei de madrugada, com os olhos cheios de ramela nos primeiros raios do Sol, ainda dormente montava a Bike para a próxima travessia da cicloviagem.

Marcelo Nogal

Outro relato de Jampa:

13 caminho da jaca.jpg
Cerveja em Jampa
14 museu_cabo-branco.jpg

Clique na imagem e continue a leitura da quarta  parte desta aventura pelo RN >

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A MISSA DO MOCHILEIRO : BAIA DA TRAIÇÃO

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIAS

PRAIAS DOS COQUEIROS

 

COMO CHEGUEI: DE BAIA FORMOSA (65KMS DE BIKE);

 

ONDE FIQUEI: HOSPEDADO EM UMA POUSADINHA BEIRA MAR

 

O QUE COMI: COMI MOQUECA DE PEIXE;

 

COMO ME LOCOMOVI: A PÉ PELAS PRAIAS;

 

PRA ONDE FUI: DE BIKE PARA JOÃO PESSOA (80KMS)

A MISSA DO MOCHILEIRO : JOÃO PESSOA

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIAS

PRAIAS DO TAMBAÚ

PRAIA DO CABO

COMO CHEGUEI: DE BAIA DA TRAIÇÃO (80KMS DE BIKE);

ONDE FIQUEI: ONIBUS NOTURNO

 

O QUE COMI: PRATO FEITO;

 

COMO ME LOCOMOVI: A PÉ PELAS PRAIAS;

 

PRA ONDE FUI: DE ÔNIBUS NOTURNO PARA MOSSORÓ (8HS)

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