Relato Vale do Seridó
CRUZANDO DE BIKE O RIO GRANDE DO NORTE
Vale do Seridó – Parte 5
Tem horas que a gente fica filosofando: por que tanto sofrimento, tanta dramaticidade para realizar uma viagem? Qual motivo de se sacrificar pedalando no sol extremo do nordeste? Orgulho, superação, prazer pelo phatos...
Nem sabia mais qual era aquele dia da cicloviagem, no interior de potiguar tudo ficava mais barato, uma pousada com ar condicionado e frigobar custava apenas cinquenta reais... Depois de ter realizado por longos dias a viagem na região costeira do Rio Grande do Norte, agora a paisagem mudou drasticamente... Estava no sertão, região serrana, chamada de Vale do Seridó, local praticamente esquecido por turistas comuns que vem ao Rio Grande do Norte.
Estava desenvolvendo novas técnicas de sobrevivência para o calor, durante a noite deixei a água congelar. Meu braço parecia um arco-íris com várias tonalidades de bronzeamento, misturadas com várias etapas de descascamento...
Segui com a Rocinante pela judiada BR427, ao fundo tinha a bela visão da Serra da Rajada, que ia crescendo à medida que ia pedalando. Pela estrada ia avistando várias fábricas de cerâmica, todas elas pareciam ultrapassadas, perdidas no tempo... Depois de vinte quilômetros chegava ao pórtico da cidade de Carnaúba do Dantas...
Na cidade fica o Santuário Monte do Galo, construído em cima de um rochedo com 460 metros de altura... Para chegar ao cume ia pedalando pela sinuosa via sacra, mas depois de três curvas eu não tinha mais fôlego, então o que me restava era subir o santuário empurrando a Rocinante, no meio do caminho em uma grutinha foi criado um santuário a Nossa Senhora de Lourdes, fiz uma breve oração enquanto recuperava o fôlego e prossegui... A visão do cume era linda: um mar verde, a cidade de Carnaúba cercada pela região serrada do Vale do Seridó... A capelinha azul construída em 1928 era charmosa, dentro dela a imagem de Nossa Senhora da Conceição envolvida por diversas fitinhas da fé... Uma escadaria de uns cinquenta metros levava a parte mais alta do Monte do Galo, deixei a Rocinante do lado da capelinha e segui ruma ao Cruzeiro, para admirar, por mais uma vez, do ponto mais alto o Vale do Seridó... Naquela manhã eu era a única alma viva no santuário cristão... Pra descer foi fácil, ia deixando o rastro de cheiro de freio queimado pelo caminho.
Seguindo minha jornada me deparo com um belo castelo medieval em pleno sertão nordestino! O Castelo de Bivar, construído na década de oitenta do século passado encima de um monte, por um entusiasta do filme El Cid, que quis trazer o imaginário das telonas para a realidade, e, seu sonho foi realizado com sucesso... Cheguei à entrada principal do castelo, mas os portões estavam fechados: “Que droga! Como vou tirar uma foto decente deste castelo?” Mas eu era persistente, fui margeando o local por uma estrada de terra e vi uma extensa mata, logo pensei: “Se eu cruzar a caatinga, será que eu chego ao castelo?” E lá estava eu, escondendo a Rocinante atrás de um umbuzeiro e seguindo a pé para o castelo, meu medo era o de ser encontrado e devorado por algum cachorro bravo, a caatinga era bem fechada, ia subindo a ladeira e não conseguia enxergar absolutamente nada, até que após uma clareira, emocionado, vi o castelo neorenascentista na minha frente, ele tinha torres, era cercado por uma muralha! Então aproveitei da ocasião e tirei algumas fotos e rapidamente eu sai dali...
Depois segui por uma estrada de terra para o vilarejo de Santo Antônio, queria imergir nos confins do sertão, tentar encontrar os tradicionais sertanejos da região... Mas o que encontrei foi um inusitado Parque Dos Dinossauros... Várias estátuas jurássicas foram construídas pelo escultor potiguar Iron Garcia. Os dinossauros ficam em um balneário turístico no Vale do Seridó, uma imensa piscina fica entre as estátuas. Perguntei quanto custava para entrar na piscina: “Nada moço, só paga o que você consome ou bebe!” melhor impossível: almocei ali, depois tirei fotos com pterodátilo, com o tigre dente de sabre... Enfim me refresquei na piscina e passei algumas horas descansando em uma rede, aquele dia estava sendo maravilhoso... Depois retornei a Acari.
Acari era uma bela cidade colonial no interior do Rio Grande do Norte, tinha a fama de ser a cidade mais limpa do Brasil, deixei a bike na pousada e caminhando fui encontrando ângulos para registrar as melhores fotos da cidadezinha potiguar. Depois segui para as Gargalheiras, mas o grande açude estava seco, apenas pedras amontoadas para fotografar aquele vale, a barragem parecia abandonada, sem água aquela paisagem parecia um santuário fantasma...
Desapontado por não encontrar a paisagem que desejava, segui meu caminho e fiz uma pausa em Brejuí para visitar o museu das antigas minas de extração de Scheelita, um minério usado para fazer aquele metal que fica dentro da lâmpada, dentre outras coisas... Mas a visita foi decepcionante, pois eu não podia fotografar dentro do museu e a visita dentro da mina estava fechada naquele dia... Durante o meu percurso, o que atraia meus olhares era a linda capela de Santa Tereza de Ávila cercada por coqueiros, toda branca com uma linda torre, não sei, mas aquela cena exótica católica me lembrava de alguma cidade caribenha dos meus sonhos...
Por uma estrada de terra de cinco quilômetros cheguei ao Cânion dos Apertados, um dos menores cânions do mundo, mas tive outra decepção, só areia e a placa indicando o local... A seca que assola a região me limitava a fotografar apenas os paredões numa cena desértica. Por essas estradas de terra abria porteiras, cruzava manadas, pedalava por estradas bem ruins cercadas por cactos, mandacarus, coroas de frade, então foi inevitável furar o pneu da bicicleta devido aos inúmeros espinhos espalhados pelo caminho. Consegui a proeza de furar os dois pneus ao mesmo tempo... Mas isso faz parte da viagem, eu acho... E lá estava eu em uma pousadinha em Currais Novos tapando os furos da câmera em quanto a água congelava no frigobar.
Marcelo Nogal














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A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 4 DIAS
CIDADE COLONIAL DE ACARI;
GARGALHEIRAS;
PARQUE DOS DINOSSAUROS;
SANTUÁRIO CANTA GALO;
CASTELO DE BIVAR;
MINA DE BREJUÍ
CÂNION DOS APERTADOS;
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS DE MOSSORÓ ATÉ COICÓ (4HS)
ÔNIBUS DE COICÓ ATÉ ACARI; (1HS)
ONDE FIQUEI: HOSPEDADO PRÓXIMO AO TERMINAL RODOVIÁRIO;
O QUE COMI: COMI COMERCIAL;
COMO ME LOCOMOVI: DE BIKE PELAS CIDADES;
PRA ONDE FUI: SANTA CRUZ (65KMS DE BIKE)