Relato Salvador
SALVADOR - 10 anos depois...
Quando começo a relembrar meu passado dá uma certa nostalgia, percebo que estou ficando velho, e, como o tempo passa rápido... Dez anos atrás! Diríamos que este será um reencontro com Salvador, um olhar mais maduro para a terra de todos os santos...
Desta vez não vou me embebedar com cravinho e virar noites no largo do café, acordando com ressaca no albergue ao som do Timbalada, desta vez não!
E como Salvador cresceu, se estruturou para o turismo! O terminal rodoviário é enorme e organizado, foi lá que deixei minha mala no guarda-volumes e sai para me reencontrar com a cidade... Obviamente tinha que ir correndo ao pelourinho, ver como ele estava, sentir novamente o clima boêmio soteropolitano, quer dizer, boêmio para os turistas...
Como em grande parte das cidades turísticas os moradores locais fogem dos pontos tradicionais de visitação. Então o jeito foi fugir das baianas e conversar com as prostitutas locais que ficam próximo ao Elevado Lacerda. O Pelourinho estava mais colorido que nunca, as igrejas, o clima quente, as construções históricas, tudo estava ali impecável como nos cartões postais, mas não era isso que estava buscando desta vez...
Fiquei observando no mirante a baia de todos os santos, a beleza do mar, o mercado lá embaixo, então perguntei a um senhor que também admirava o horizonte: “Onde estão os baianos?” “No shopping!” Então era pra lá que eu iria, mas antes, tinha que dar uma passadinha na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, fui caminhando pela cidade, pela parte feia e suja de Salvador, a menos aclamada. Ia percebendo que alguma coisa havia mudado...
Salvador não parecia ser mais uma terra de negros! Parece que eles sumiram ou estão escondidos em algum lugar, com o passar dos anos a miscigenação das raças tornou a população diferente! Essa observação me deram uma sensação de temor, filosofei: “A raça negra está com os dias contados?” Espero que não...
Segui até a igreja, coloquei uma fitinha como manda a tradição, orei aos deuses agradecendo por ter realizado uma boa viagem até aqui e segui rumo ao shopping, que é enorme! Imagens de Ivete Sangalo por todos os lados, acho que ela é endeusada aqui nas terras dos orixás, observando as vitrines surgia uma nova banda a meus olhos, o grupo Parangolé... E lá estavam os soteropolitanos todos arrumados passeando pelo shopping da cidade com um sorvete do Mcdonalds na mão, não pareciam ser diferentes dos paulistas, cariocas ou mineiros... Viva a globalização!
Resolvi ir até o mercadão de Salvador, não o turístico, mas o de verdade, ali sim eu me divertia, com a malandragem local, observando o dia a dia do cidadão comum, comecei a conversar com alguns deles sobre o carnaval baiano, das verdades e dos deslumbres criados pela imprensa brasileira, talvez eu fale disso numa outra ocasião, o fato é que o dia começava a partir e eu tinha que chegar a tempo no Farol da Barra para ver o pôr-do-sol, a maioria dos soteropolitanos que conversei jamais foram na praia de Itapoã ou no Farol da Barra, pelo caminho que seguia encontrei o local onde morava a elite de Salvador, arranhásseis ao lado da praia, áreas arborizadas, senhores fazendo caminhada... Felizmente cheguei a tempo de deslumbrar o pôr-do-sol, deixando o céu atrás do farol rosado...
Um gran finale para um dia tão filosófico! É... Há dez anos, eu seguia para a ilha de Itaparica com a barriga cheia de vatapá e acarajé... Mas desta vez não! Tinha que terminar meu dia sem os soteropolitanos, afinal em qual local do mundo eu posso escutar MPB num local histórico e charmoso a céu aberto, no frescor da noite olhando para a lua? No Pelô...
Marcelo Nogal

A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2DIAS (UM DIA NAS PRAIAS E O OUTRO NO PELOURINHO;
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS (NOTURNO) DE PAULO AFONSO (8HS);
ONDE FIQUEI: DEIXAVA A MOCHILA NO GUARDA VOLUMES E À NOITE SEGUIA PRA OUTRA CIDADE;
O QUE COMI: COMI VATAPA E ARCAJÉ NAS RUAS DO CENTRO;
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ POR TODA CIDADE;
PRA ONDE FUI: PEGUEI UM ÔNIBUS NOTURNO PRA LENÇÓIS (6HS);