Relato Praia do Pipa
CRUZANDO DE BIKE O RIO GRANDE DO NORTE
PRAIA DO PIPA – Parte 2
Todo percurso que era pra ser realizado em dois dias, devido à circunstancias, foi feito em apenas um, então tinha a manhã pra explorar aquele camping excêntrico... Descobri que todas aquelas esculturas diferentonas eram obras do proprietário, um artista plástico potiguar perdido no espaço tempo naqueles confins do mundo, que usa lixo para construir sua arte, que fica ali escondido, isolado do mundo... Tirando seu lado exótico o camping tem uma bela infraestrutura e salvou minha pele e foi um divertido achado do acaso...
Do camping até centro de Pipa não fiquei mais que dez minutos no lombo da Rocinante, rapidamente encontrei um local para acampar, próximo a Praia do Amor, não era no camping do Amor, que estava abarrotado de gente, mas sim em outro, mais reservado se é que isso é possível...
Montei a barraca, por lá passaria meu réveillon. Teria dois dias pra explorar Pipa. No primeiro dia dei férias pra Rocinante e fui relaxar na praia do Amor... Dar uns mergulhos, ver a vida passar com uma lata de cerveja nas mãos. Praia geralmente é essa monotonia, totalmente o oposto de uma cicloviagem, aqui na areia circulava bundas, peitos, músculos, diversos cheiros de bronzeador e limão... Na parte da tarde caminhei até o Chapadão, local que tinha toda visão da bela orla do Pipa... Lá de cima começava a entender por que a Praia do Amor tinha aquele nome: A junção da areia da praia com o mar formava um coração natural...
Eu não tinha muito estimulo para visitar o banheiro do camping: Um cano cercado por quatro paredes de reboco com a entrada sempre lamacenta, que me desanimava! Acender a luz para tomar banho e ver a lagartixa na parede era pouco atraente, o banho no escuro era mais convidativo... Um banho demorado era quase impossível... Quando voltei do banho sem prazer, observei alguém tentando tocar violão no meio das barracas do camping, então só esperei a deixa: “Posso tocar uma música!” Uma música que virou dez, vinte, trinta... Assim se foram as horas pela noite estrelada: Tocando, desafinando, ora alguns hospedes dançando ao som de Eduardo e Monica, ora outros pedindo pra que eu tocasse Beatles, ora outros acendendo uma fogueira, ora outros oferecendo cerveja... Pessoas iam e vinham, até que já na brisa da madrugada devolvi o violão ao dono e tentei dormir... Neste momento descobri da pior forma possível que precisaria comprar um ventilador de camping... Não conseguia dormir dentro daquela barraca abafada, nem um arzinho entrava pra me refrescar, aquele calor me dava motivos pra entrar novamente naquele banheiro sinistro para me refrescar, molhar a toalha pra tentar dormir, mas nada deu certo, só consegui dormir com as pernas dentro da barraca e o corpo do lado de fora igual a um bêbado... Depois da péssima noite eu tinha a certeza que dormir novamente em uma barraca nessa cicloviagem seria somente em caso de extrema emergência...
O segundo dia no Pipa eu fiquei zanzando pela cidade e pelas praias, praticamente esperando o réveillon chegar, e, dormindo debaixo de um coqueiro depois da péssima noite... Acreditava que o melhor local para ver a queima de fogos seria no Chapadão, então faltando pouco menos de uma hora segui meu caminho solitário pra lá, mas quando cheguei descobri que não era o único a ter essa ideia, havia uma mar de roupas brancas sobre o chapadão, as pessoas enchiam a cara e aguardavam a contagem regressiva. A queima de fogos não foi nada demais, muito barulho, cheiro de pólvora e aquele brilho colorido no céu igual aos dos anos anteriores, é isso que as pessoas chamam de novo, o mais do mesmo... Depois de alguns abraços em pessoas desconhecidas e alguns apertos de mão desejando prosperidade regressei para o camping, pensando em uma estratégia para conseguir dormir naquela noite, a primeira de Janeiro...
Como não consegui dormir direito, nem começou a clarear e eu já desmontava a barraca, e, lá estava eu continuando a cicloviagem nas primeiras luzes da manhã, tinha que chegar até o final do dia na Baia Formosa...
Cruzei a cidade de Pipa, ela estava irreconhecível, sujeira e lixo pra tudo quanto é lado, garrafas, latas se acumulavam pelos cantos... Eu queria entender, como alguém que deseja na noite anterior um futuro melhor, não consegue deixar a cidade limpa no final da madrugada! A sociedade está fadada ao fracasso... Sai de lá indignado! Pedalava o máximo possível antes que o sol começasse a corroer o meu couro...
O percurso foi tranquilo e bonito até a Barra do Cunhaú, só a sede que não me deixava ser feliz, em um barzinho do lado da balsa, me estorricava tomando uma Coca-Cola estonteantemente gelada... Pedia mais água, pedia mais gelo! O garotinho do vilarejo ia buscar correndo na geladeira da casa dele os cubos pra me presentear... Ele não parava de dizer: “Você é doido de ir de bicicleta pra Formosa pela trilha da Fazenda Estrela!” Na verdade o garotinho não estava sendo gentil com o gelo, ele estava preocupado com que eu viria enfrentar pelo caminho. Se eu soubesse do que ele estava falando...
Atravessei todo sorridente o Rio Curimataú até a Praia da Restinga, passava das treze horas, diversas pessoas almoçavam as margens do rio, aquele era um lugar lindo pra relaxar, perguntei pra um dos nativos qual caminho deveria seguir para o inicio da trilha, o senhor riu dizendo: “Você é maluco meu filho! A essa hora da tarde fazer a trilha!” Apontou pra onde eu deveria ir... Ele me assustou com aquela indagação, mas não tinha escolha. Comecei a pedalar pela estradinha de terra e logo percebi que estava lascado! Estava de frente com o que eu mais temia: a estrada de terra se transformou em estrada de areia fofa e a bicicleta afundava com o peso, sendo impossível pedalar naquele terreno... Não tinha nenhum lugar pra eu me esconder do sol, e, seguia empurrando a bike... Para complicar minha vida, a estrada seguia por uma íngreme montanha, prosseguir empurrando era uma tarefa árdua, certo momento comecei a duvidar se conseguiria... Aquela subida tinha mais de um quilometro e nunca acabava! Foi quando encontrei um coqueiro solitário na estrada e gritei: “Sombra!” me derramei ali debaixo do coqueiro e fiquei por uns quarenta minutos tentando recuperar as forças, tentei tomar a água, mas naquele momento já estava quente, mas não tinha jeito era ao que tinha para o momento! Ora ou outra passava um carro tracionado pela trilha, o motorista perguntava: “Está tudo bem, garoto?” “Sim!” e seguia seu caminho. Então eu ficava a pensar: “Será que eu realmente estou preparado para essa aventura?” E lá ia eu empurrando a bicicleta novamente debaixo do sol, decepcionado comigo mesmo por não ter pedido uma carona, mas não, eu e meu orgulho... Até que a areia começou a diminuir e eu finalmente podia voltar a pedalar.
Depois de pedalar com certa dificuldade por alguns quilômetros cheguei a uma longa descida de cascalho e manter a mão firme agarrada no guidão começou ser uma tarefa difícil, a palma da mão doía muito com a trepidação... Eu não sabia o que era pior: empurrar a bike na areia, ou descer com a trepidação e a costela de vaca triturando minhas mãos... Até que depois de uma bifurcação cheguei em um vilarejo, os cachorros prontamente foram me recepcionar tentando rasgar minha meia, mas naquele momento eu não queria briga com ninguém, desci da Rocinante, minhas mãos latejavam, deitei num banco feito de tronco na frente de uma casinha simples e por lá fiquei com os cachorros latindo no meu ouvido, me recuperando. Os cachorros desistiram de mim...
Do vilarejo sai pela estrada de terra RN062 e segui por ela até chegar à cidade de Baia Formosa! Tinha conseguido com muito sacrifício vencer mais uma etapa. Não foi tão difícil encontrar uma pousada pra ficar, o preço não era dos melhores, mas depois de tudo que tinha passado, dois dias acampando, eu merecia um quarto com ar condicionado naquela noite! E o mirante da Praia dos Golfinhos era espetacular... Naquele momento eu só tinha sede, eu só queria beber, beber e beber...
Desci até a Praça dos Pescadores e desanimei, era muita gente naquele final de ano passeando por ali, tentei ficar um tempo da praia da Cacimba, mas a poluição sonora e aquela multidão me incomodavam... Não conseguia encontrar um lugar com sombra pra ficar e apreciar o vai e vem dos banhistas... O meu quarto com ar condicionado era mais convidativo... Não resisti à tentação e voltei para Pousada Costa Dourada... Nunca dormi tão bem na minha vida!
Marcelo Nogal





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A MISSA DO MOCHILEIRO : PRAIA DO PIPA
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS
PRAIAS DO AMOR
CHAPADÃO
COMO CHEGUEI: BIKE DE PONTA NEGRA (50KMS);
ONDE FIQUEI: ECO CAMPING
O QUE COMI: COMI LANCHE NA CIDADE;
COMO ME LOCOMOVI: CAMINHEI PELAS PRAIAS;
PRA ONDE FUI: BAIA FORMOSA (30KMS DE BIKE)
A MISSA DO MOCHILEIRO : BAIA FORMOSA
QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIAS
PRAIAS DO CACIMBA
COMO CHEGUEI: PRAIA DO PIPA (30KS DE BIKE)
ONDE FIQUEI: POUSADA COSTA DOURADA
O QUE COMI: COMI LANCHE NA CIDADE;
COMO ME LOCOMOVI: CAMINHEI PELAS PRAIAS;
PRA ONDE FUI: BAIA DAS TRAIÇÕES (80KMS DE BIKE:)