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Relato Ponta Negra

CRUZANDO DE BIKE O RIO GRANDE DO NORTE

PONTA NEGRA - Parte 1

 O dia ia me dando adeus e eu tenso tentava brincar de ser mecânico, por em prova tudo o que tinha treinado em São Paulo... Agora era a hora da verdade! Tinha que conseguir montar a bike sozinho... Aquele era um quebra-cabeça que não estava acostumado a fazer.

Estava em um hostel de Ponta Negra, prendendo o guidão na bicicleta, transpirando com o calor potiguar, até que surgiu uma garota lá de dentro do hostel e disse: “Ei, você é aquele mochileiro que viajou o mundo inteiro... Chamado... Marcelo Nogal? É isso mesmo?” um pouco surpreso disse: “Sim, sou eu!” “Nossa, que fantástico! Eu sou sua fã, te acompanho lá nos grupos do Facebook!” Eu não fazia a menor ideia de quem era aquela garota!

Naquele momento eu tentava dividir minha atenção entre conversar com minha fã e tentar montar minha bicicleta, já todo encardido de graxa, um tanto quanto irritado, tentava encaixar a corrente no cassete, mas não estava conseguindo: “Depois de ter viajado o mundo todo, Você ainda não conhece Ponta Negra?” “Conheço sim, já estive aqui, faz dez anos!” “E quanto tempo pretende ficar por aqui?” “Essa noite apenas, porque pretendo ir pedalando daqui até João Pessoa, e, amanhã bem cedinho já quero estar na estrada rumo à Paraíba!” “Nossa que fantástico! Você é demais!” sei, sou tão fantástico, que não consigo montar nem essa maldita bicicleta! Ufa, Encaixou... Agora precisava encher os pneus, mas essa minha bomba era uma porcaria! Não conseguia encaixar o bico e encher o pneu corretamente! “Eu e minha amiga vamos sair pra jantar, gostaria de ir com a gente?” “Eu adoraria, mas estou exausto... A viagem de avião, mas o transfer pra cá levou praticamente o dia inteiro, quando terminar de montar a bike, vou tomar um banho e desmaiar!” “Ok, então fica pra próxima!”

Lá pelas seis da manhã, antes do café do hostel ficar pronto, lá estava eu deixando o local, arrastando a bike até o posto de gasolina mais próximo para encher os pneus da bicicleta... O café foi numa padaria ali mesmo do lado do posto, com um olho no pão de queijo e o outro no alforje da Rocinante (a minha bicicleta), estava ficando neurótico... Era a primeira vez que fazia uma longa viagem com a Bike nova. A anterior o quadro tinha rachado no meio... Essa era mais leve, toda preparada para o desafio que estava por vir... Vamos ver se a Rocinante aguentará!

Comecei a pedalar rumo ao Sul, meu objetivo era parar em Tabatinga neste primeiro dia de cicloviagem... Devido ao peso do alforje (dez quilos), ia devagar pela rota do sol... Boa parte dos ciclistas que passava pela ciclovia, perguntavam o meu destino e ficavam encantados com minha aventura... A minha primeira parada foi no Centro Cultural Espacial para tomar água, e, alguns ciclistas aproveitaram para tirar fotos com o viajante insólito, todos queriam registrar o momento com o Nogal e a Rocinante... Esse primeiro trecho de pedal não tinha nada de interessante pra se ver, apenas mata atlântica dos dois lados.

Após pedalar por mais cinco quilômetros a ciclovia finda e chego à Praia do Cotovelo, paro um pouco a jornada para admirar a paisagem, sentir a brisa refrescante da praia potiguar e tirar algumas fotos da aventura... Pra mim, uma cicloviagem não é apenas pedalar, mas sim ir degustando de cada pedacinho do caminho. Estava muito empolgado com esta viagem!

Depois de mais cinco quilômetros, outra parada, para conhecer o maior cajueiro do mundo, não só um, mas vários, um mar verde emaranhado por galhos. Os cajueiros ficam na Praia de Piranji... Sempre que podia abastecia minhas garrafas com água gelada. Daqui pra frente a paisagem começou a valer a pena, a  minha esquerda o oceano se revelava, margeando as orlas repletas de coqueiros e banhistas... As nuvens haviam desaparecido do céu, e à medida que o Sol ia se elevando cada vez mais ficava difícil pedalar pelo Rio Grande do Norte, mesmo com o vento constante, o calor do verão nordestino era intenso.

No final da praia de Búzios veio o primeiro desafio, uma ladeira de sessenta metros até o mirante com angulação de subida extrema! Bem que eu tentei, mas depois de alguns metros lá estava eu empurrando a bicicleta com o sol a pico! Cheguei ao cume do mirante ensopado e esgotado! Será que ainda não estava preparado pra esse desafio? Almocei em um restaurante que ficava ali em cima. Recuperava as energias, vendo um belíssimo mirante da região...

Agora faltava pouco, apenas descer as montanhas, arrumar uma pousadinha pra ficar e passar o resto do dia na praia. Mas não foi bem assim que aconteceu... Chegando a Tabatinga toda pousada que consultava, estava lotada, ia a um hotel luxuoso: “Cheio!”, ia aos chalés: “Full!”, nesse momento de angustia tinha que pensar rápido: “O que vou fazer?”  “Tentar chegar à Tibau do Sul? “Será que chegaria a tempo na balsa?” “Será que conseguiria atravessar as Dunas de Malembá? Como estaria a maré para minha travessia?” muitos questionamentos, muitas incertezas de onde ia passar aquela noite... Tantas preocupações, tantas coisas pra pensar,       que acabei esquecendo o capacete no muro de um dos chalés... Só percebi quando estava bem distante de lá... Não tinha tempo pra voltar e resgatar o capacete. Logo no primeiro dia de viagem e já estava levando prejuízo! Comecei bem...

Atravessei a Praia de Barreta e no final do vilarejo de Cururu estava na entrada da trilha das Dunas de Malembá, apreensivo perguntei para o vendedor de coco no inicio da trilha: “Será que consigo atravessar as dunas de Bike até a balsa?” “Galego, tu é um cabra de sorte! A maré começou a baixar faz uma hora!” “E quanto tempo tenho pra atravessar as dunas?” “Umas duas horas, visse!” E lá ia eu com a Rocinante atravessando as dunas, com tensão e adrenalina logo no primeiro dia de viagem, estava com medo de a bicicleta afundar na areia fofa com o peso do alforje, encontrava pessoas fazendo a trilha a pé, pelo caminho inverso. Outros se divertindo nas dunas de Buggy ou carros tracionados, e, eu tentando me equilibrar na Rocinante, entre ondas e dunas num cenário por vezes desértico... A travessia não durou nem uma hora e já avistava o barquinho cruzando a lagoa Guaraíras... Essa seria minha balsa para Tibau!

Mesmo em Tibau do Sul não obtinha sucesso para encontrar um lugar para passar a noite, todas as reservas estavam esgotadas e eu que inocentemente achava que no dia 29 de Dezembro ia encontrar facilmente um lugar para dormir... Doce ilusão! O jeito era prosseguir e todo local que encontrava uma plaquinha de pousada, parava para saber se tinha alguma vaga, mas a resposta era sempre negativa...

Chegando as Falésias de Cacimbinhas, a paisagem da estrada era deslumbrante, jovens surfavam nas imensas dunas, o sol ia se pondo no mar... Ia cruzando aqueles tons alaranjados, cada vez mais pressionado pelo entardecer, por quantos quilômetros mais pedalaria naquele dia... Será que teria que pedalar na escuridão? Depois de atravessar a Praia do Madeiro já estava desanimado, já passava das 17hs e não tinha encontrado nada... Até que vi uma plaquinha: “Eco Camping!” apontando para uma estradinha íngreme de paralelepípedo escondida na mata...

Empurrava a Rocinante ladeira acima, aquilo mais parecia um lugar abandonado, mais do que isso! Parecia um santuário psicodélico, com esculturas um tanto quanto estranhas: “Aonde eu vim parar!” Até que surgiu no meio da mata um senhor de galochas e barbas longas, logo presumi de onde Zé Ramalho tinha se inspirado pra criar suas músicas... “O Senhor tem vagas para essa noite?” “Sim, custa cinquenta reais um quartinho com ventilador!” “Perfeito!” Respirei um tanto quanto aliviado, no limite do tempo... Essa tinha sido por pouco! O Senhor Avohai me ofereceu café, pra dizer a verdade um chafé, tomei mais por educação. Já com o céu estrelado, preparei na cozinha comunitária meu Miojo ao som das cigarras. Naquele santuário ufológico ancestral só tinha eu de hospede... Gostava assim da exclusividade e da solidão.

Marcelo Nogal

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Clique na imagem e continue a leitura da segunda parte desta aventura pelo RN >

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A MISSA DO MOCHILEIRO 

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIAS

NAS PRAIAS DA CIDADE E MORRO DO CARECA

PRAIA DO COTOVELO

CAJUEIRO DE PIRANJI;

 

COMO CHEGUEI: VOO DE SÃO PAULO ATÉ NATAL DEPOIS 

TRANSFER DO AEROPORTO ATÉ PONTE NEGRA (1HS)

 

ONDE FIQUEI: GET UP HOSTEL

 

O QUE COMI: COMI NA ESTRADA

COMO ME LOCOMOVI: DE BICICLETA

 

PRA ONDE FUI: ATÉ PRAIA DO PIPA (50KM DE BIKE)

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