Relato Gibraltar
ESCALADA NO FIM DA EUROPA
O nosso objetivo era cruzar a pé de ponta a ponta um dos menores países do mundo, que é parte do território ultramarino britânico. Esquecido no final da Espanha em uma península mediterrânea ficava Gibraltar. Pegamos um ônibus em Algeciras que nos deixou no posto fronteiriço na cidade La Línea da La Concepcion.
Iriamos ficar um dia em Gibraltar, achávamos que era o suficiente pra conhecer o minúsculo pais de antiga colonização britânica, compramos um lanche no mercadinho local, não queríamos fazer o intercâmbio com a moeda de Gibraltar: a Libra. Mas depois descobrimos que em muitas lojas se aceitava o Euro para compras. O processo na alfandega foi bem rápido, carimbaram nossos passaportes, revistaram nossas malas e rapidamente estávamos em um novo país europeu.
A arquitetura vitoriana denunciava suas origens, tudo lembrava a Inglaterra: as cabines telefônicas, as igrejinhas, as placas nas ruas, mas antes de chegar ao centrinho histórico daquela cidade pitoresca, tínhamos que cruzar a pista do aeroporto, no North Distrit, sim a avenida principal da cidade cruzava o aeroporto, e quando algum avião iria pousar a Winston Churchill Avenue era bloqueada para veículos e pedestres. Era a hora do espetáculo: as turbinas do avião arrastando tudo ao redor e a asa do avião raspando minha orelha.
Achava aquela cidade um tanto exótica, na verdade boa parte de Gibraltar era constituído por uma imensa montanha escarpada de rocha, chamada “The Rock”, o cartão postal de Gibraltar, as praias e as casinhas de veraneio cercavam The Rock, o centro histórico da cidade cercava o rochedo... Tínhamos que chegar ao cume da montanha, mas não do jeito tradicional como os turistas faziam, lotando um ônibus ou de bondinho, mas sim caminhando... O Chukachuka queria me matar...
Íamos caminhando pela ultima estrada da Europa, sinuosa até seu fim... Os macacos-berberes estavam lá nos esperando, tentando roubar alguma coisa do turista menos atento, eles eram enormes e ágeis, típicos da região, os últimos que sobreviveram a urbanização do mediterrâneo... Depois de um túnel, que já apareceu em um dos filmes do James Bondes, tem um guichê de madeira, era um serviço de controle para registrar nossa entrada no The Rock, daqui pra frente o asfalto acaba e começa uma sinuosa e íngreme trilha de terra batida...
A vista lá de cima do The Rock é deslumbrante, depois da curva chegamos a um mirante que é possível ver o South Distrit, o farol e o fim do continente europeu, lá de cima o Estreito de Gibraltar não parece ser tão grande, conseguimos ver além do mar o continente africano, os barcos cargueiros cruzando aquele canal mostravam as reais dimensões do local... Era um momento inacreditável: Tão próximo da África e ao mesmo tempo tão distante, era sobre essa estreita faixa do mar, que os mouros invadiram a Europa, começava entender porque aquele pedaço de rocha era um centro estratégico para o antigo império britânico...
Naquele dia o azul do mar era tão intenso quanto do céu, nenhuma nuvem pra refrescar o corpo, depois de uma pausa seguimos subindo a montanha de pedra, que chega aos 427 metros de altura. Depois de atravessar uma bela ponte suspensa, estávamos chegando ao topo do monólito de rocha.
Encontramos pelo caminho um antigo Bunker desativado da segunda guerra mundial, agora todo pichado, mas mesmo assim era interessante caminhar naquelas salas escuras revestidas de concreto e tentar compreender como era a sensação de um soldado no inicio do século passado de estar ali encima naquele local desolado. Depois do Bunker a trilha nos levava a outro belo mirante, da linda Praia de Algarrobo. Visitar a caverna repleta de estalactites de São Miguel era uma opção, mas não estávamos dispostos a gastar nossos Euros, então seguimos para o outro extremo da Montanha, cruzando antigos canhões e fortes sobre o Rochedo, avistando outros macacos dormindo na sombra de uma árvore seca. Podíamos descer a rocha de bondinho, mas pra quem já tinha subido tudo a pé, descer agora seria moleza, assim fizemos pela outro extremo, por uma escadaria que nos levou até o Castelo de Moorish, na verdade só conseguíamos avistar a bandeira vermelha de Gibraltar tremulando...
O dia já ia escurecendo e tínhamos conseguido, caminhado por cerca de 20 quilômetros por aquele minúsculo país da Península Ibérica, cruzamos novamente o posto fronteiriço e novamente ouvimos o castelhano pelas ruas. Em breve, daqui trinta minutos estaríamos em Algeciras comendo uma bela Tortilla espanhola e tomando um Tempranillo comemorando nossa façanha naquele dia ensolarado de Julho...
Marcelo Nogal
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A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIAS
Caminhada até o cume do The Rock
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS ALGECIRAS DE TRINTA MINUTOS ATÉ A FRONTEIRA;
ONDE FIQUEI: FIQUEI NUM HOSTEL EM ALGECIRAS;
O QUE COMI: COMPREI ALIMENTOS NO MERCADO DO LADO DA FRONTEIRA;
COMO ME LOCOMOVI: CAMINHANDO PELA CIDADE;
PRA ONDE FUI: VOLTEI PARA ALGECIRAS