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Relato Capadócia

PASTOR DO UNIVERSO EU SOU

“Calma, eu não errei o nome da música do Raul e nem estou enlouquecendo! Tá certo que o sol do deserto na cabeça pode causar alucinações, mas tudo que irei narrar é a Capadócia...”

 

 Todo o dia o céu está azul em Goreme! Há diversos passeios pela Capadócia dos mais variados gostos... Mas o mais simples de todos não custa nada: caminhar pelo deserto! O deserto é vasto e diversificado com o mesmo teto azul! Dai basta escolher por onde caminhar...

 

​No primeiro dia segui para o sul da cidade e depois de três quilômetros margeando a rodovia principal, encontrei trilhas de terra que começam a ser pintadas no deserto esbranquiçado, sigo por uma delas e em poucos minutos me deparo com gigantescas cavernas, ou melhor, casas construídas dentro de imensas pedras esbranquiçadas...

 

Agora todas abandonadas, podemos xeretar dentro de cada uma delas, observar como foram moldadas por povos antigos que lá moraram, depois encontro uma casa caverna maior de todas que tinha visto até então, isolada no deserto dourado! As antigas catedrais também foram construídas em cavernas, para dar tons surreais a estas paisagens fabulosas da Capadócia... Imensas formações rochosas em forma de pião se destacam as margens da trilha, foram moldadas pelos ventos, por séculos e mais séculos e no meio daquela galeria de pedras o silêncio só era quebrado pelos cantos dos pássaros.

 

Vou caminhando numa imensidão só minha, o tipo de solo é meio esfarelado, então improviso um cajado, para conseguir subir algumas montanhas sem escorregar, nessas breves subidas, desnudo magníficos mirantes, e, atravessando o primeiro vale, chego a outro com terras rosadas, é quando o deserto muda de tom, o vento constante refresca minha caminhada solitária pela terra inóspita, um dos melhores momentos para sentir a solidão e desfrutar dela! Depois de mais algumas curvas o deserto tem montanhas com cumes amarelos, que parecem terem sido borrados por mãos divinas, uma montanha feito pudim com cobertura de caramelo, vou me iludindo com o mirante, vou transbordando...

 

A jornada por trilhas infinitas prossegue, o deserto ganha forma e vinheiras como mágica brotam do chão, provar daquelas uvas não é um pecado e como são doces e geladas no calor escaldante de Anatólia, nos revigora em nossa jornada, este deserto nunca é monótono, sempre em sua metamorfose singular vai se revelando, ora em cânions, ora em vales alaranjados...

 

As cavernas cada uma com sua singularidade vão mudando de tons, nesse caminhar com a solidão a alma também vai se transformando apaziguando o âmago e é nesses momentos que me sinto um pastor universal, de rebanhos invisíveis, com aquele cajado na mão, me sinto como Alberto Caieiro nos poemas de Fernando Pessoa, simples, humilde, minúsculo diante de tal natureza sublime! Em cada passo dado, em cada sensação proporcionada pelo deserto da Anatólia, tão único e tão múltiplo, lá encima vejo a maior de todas as cavernas, o que chamam de castelo de Uçhisar, que Significa o Castelo das “três fortalezas”, fica no ponto mais alto da Capadócia.

Junto o pôr do sol se eleva milhares de balões coloridos no céu blue da Capadócia, cada uma daquelas esferas coloridas representa a minha metáfora preferida: Liberdade! Sem Rumo! Sou balão reflexo do céu, que caminha por esses vales, agora o de Pigeon...

 

Nessa jornada Pastoral, cada gota de suor é um diluvio de reflexão sobre a arte de viajar e trilhar, que só é possível num deserto tão colorido e repleto de formas, em que pedras como mágicas desafiam a lógica. Em Urgup, pedras ficam sobrepostas uma sobre as outras, num jogo de equilíbrio insano...

 

“Calma, eu não estou enlouquecendo e nem errei o nome da música do Raul! Tá certo que o sol do deserto na cabeça pode causar alucinações, mas tudo isso é a Capadócia!”


Marcelo Nogal

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