Relato Veneza
VENEZA - UM PARADOXO ROMÂNTICO!
"Estorinha dos dias dos namorados para solteiros..."
Estava em Mestre, prestes a embarcar no trem que me levaria à cidade mais glamorosa do mundo! Meu único delírio era: “Venice!” Pensava na cidade mais romântica do mundo...
Um dos berços da humanidade capitalista, elo entre o mundo ocidental e o mundo oriental, cidade em que nasceu, no século XIII, meu ídolo “Marco Polo” um dos grandes mochileiros da Idade das Trevas, mas ao desembarcar o devaneio estava prestes a acabar, o choque com a realidade me levaria a outras divagações...
Antes digo, que a forma mais barata de se chegar à Veneza é indo de ônibus até Mestre e de lá pegar o trem até a cidade glamorosa (Tem trens a cada meia hora). Não fique perdendo tempo na fila, compre a passagem nas barracas de jornal da estação. Reserve os albergues com antecedência, ou fique em Mestre.
Quando se chega a Veneza, descobrimos o óbvio: a cidade está entupida de turistas, parece quase impossível detectar um nativo veneziano. As pontes lembram um formigueiro. Há congestionamento de gôndolas nos canais, ri alto, e mais alto ainda quando, no Rialto, tento disputar espaço pra tirar aquela foto tradicional da cidade.
Tem que se ter muita paciência mesmo, com as enormes filas, pra guardar a bagagem, nos restaurantes, pra comprar a passagem de trem... Tudo é extremamente caro, algo que parece óbvio. Mas afirmo, que nem a multidão, nem o calor conseguem tirar toda a beleza exótica de Veneza, mas começo a filosofar sobre seu Glamour, seu lado romântico, tão comuns na literatura e nos filmes hollywoodianos...
Infelizmente Veneza não tem nada de romântico e antes que você, leitor, me chame de insensível, digo que o que torna romântico o local é o quanto de dinheiro a pessoa que visita tem. O que torna a cidade famosa, são as pessoas românticas (Com muito dinheiro) dispostas a gastar na cidade do Glamour tudo o que se tem... É isso “Glamour” combina muito com o romantismo que estamos falando...
Para entender melhor vou descrer uma viagem à belíssima Veneza de forma romântica (Glamorosa): Chego com minha bela namorada “mega modelo” na cidade, no canal um taxista com seu iate nos aguarda (50 Euros ou mais pela viagem) e nos leva até um hotel cinco estrelas em que a entrada só é possível através dos canais, os maleiros nos espera sobre o tapete vermelho, saímos do barco e temos uma vista espetacular dos canais da janela do quarto (isso não deve custar pouco) depois do banho, um gondoleiro vem nos buscar e nos leva até um restaurante as margens do Rialto, pago para o gondoleiro cantar e abro um vinho italiano para bebermos durante o percurso, durante todo aquele passeio, com a paisagem exótica e medieval, vamos tendo uma experiência incrível! No restaurante descrito, no mínimo gastaremos 100 euros por pessoa no jantar, jogaremos conversa fora diante de tão magnífica paisagem, depois o gondoleiro nos leva de volta para o hotel cantando uma cantiga medieval de amor provinciano, ao chegar no hotel teremos uma bela noite de amor... Mais romântico impossível, mas posso descrevê-lo sem glamour e mudar o cenário.
Agora podemos conhecer a belíssima Veneza sem glamour: É uma experiência incrível se perder no meio das vielas estreitas da cidade, com aquele cheiro estranho dos canais turvos, apenas sentar em umas das escadas que circundam o canal e observar a forma que os gondoleiros manejam o barquinho, que gôndolas passam uma atrás das outras, umas com mais de 10 chineses, outra com grupos de 3 amigos mochileiros, ou até mesmo viajantes solitários que contam suas relações amorosas frustradas ao gondoleiro... Cada qual vai vivendo sua experiência, não tão glamorosa, mais inesquecível em local tão exótico.
Quem não tem dinheiro, vai nos coletivos, transportes públicos, que passam pelos canais maiores. Vão espremidos no meio do povão veneziano vendo a cidade de outro prisma "Esmagado" com aquele cheiro de sovaco italiano e o calor humano, ahh, o calor humano! E quando chegam à Plaza San Marcos, todos se misturam numa só multidão. Quem fica no albergue e compra os lanches num mercadinho com quem fica no glamoroso hotel de frente com a Plaza...
E ao contrário do que os invejosos dizem, Veneza não fede, não se vê ratos ou é suja. Parece até estranho dizer isso, mas Veneza é paradoxal: a prefiro em seu status real, e não em seu status romântico, que em cada esquina encontro uma velhinha ou uma igreja simplória... E também não tenho nada contra, quem escolheu vir até aqui, viver seu sonho glamoroso, porque se eu tivesse condições também o faria.
Talvez o que mais me fascine nessa cidade é esse clima misterioso que a envolve e faz com que as pessoas a transformem no que bem entender... E eu em dia tão antagônico digo: Foi esse o dia em que Veneza teve o prazer de conhecer Marcelo Nogal, seu enamorado bipolar eterno... Agora eis a questão tomar um cafezinho ou uma birra gelada as margens dos canais?



A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 1 DIA (CAMINHANDO PELA ILHA);
COMO CHEGUEI: ÔNIBUS NOTURNO DE LUBLIANA ATÉ MESTRE (8HS) E DE LÁ TREM ATÉ A ILHA (7 EUROS - 30 MIN);
ONDE FIQUEI: DEIXEI A MOCHILA NO GUARDA VOLUMES DA ESTAÇÃO DE TREM;
O QUE COMI: COMI UM X-SALADA NUNS TRAILERS PRÓXIMOS À ESTAÇÃO;
COMO ME LOCOMOVI: A PÉ PELA ILHA;
PRA ONDE FUI: PEGUEI UM TREM PARA VERONA (2 HORAS) - TRENITALIA;