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Relato Praga

ONDE A EUROPA FICA MAIS BONITA!

 

Em uma linda noite de tempestade, carro quebrado, caminhando pela cidade com aquele guarda chuva que não serve pra nada, todo encharcado, vendo a lua minguante, e claro, de calça branca... Indo para o trabalho numa Segunda-Feira... Momento perfeito para filosofar! Tive um deslumbre: Qual a cidade mais incrível da Europa? Ser ou não ser, eis a questão... E confesso, pior que o ônibus jogando a água da poça na minha cara, eram os papagaios de plantão palpitando: “Paris é a cidade mais charmosa do mundo!” “Barcelona é perfeita, agitada todos os dias!” “Amsterdam é a maior viagem!” “Veneza é a mais romântica!” disse: “Vocês todos estão loucos! Praga é onde a Europa fica mais bonita!”

Ninguém me entendeu, achavam que eu estava delirando, muitos nem sabiam onde ficava Praga, até que alguém soltou um murmúrio: “Que merda! É melhor parar por aqui, antes que você ache Ciudad Del Este a mais bonita da América Latina!” insisti: “Praga é onde a Europa fica mais bonita!” não surtiu muito efeito, era necessário relembrar da minha aventura pela capital Tcheca para persuadi-los:

 

O ônibus parou no terminal rodoviário de Praga, bem humilde e confuso, o alfabeto tcheco era estranho, o cê-cedilha e o circunflexo pareciam estar no lugar errado! A moeda de troca não era mais o Euro. A comida e o albergue tudo mais barato. Havia chegado ao início do Leste Europeu...

 O rio Moldávia dividia a cidade em duas partes distintas: em uma delas ficava a Cidade Velha (Staré Mesto), Cidade Nova (Nové Mesto) e a Judaica (Josevof); do outro lado do Rio Moldávia fica a Cidade Pequena (Malá Strana) e o Castelo de Praga (Hradcany).

 

A minha jornada começou em Nové Mesto... Por ser menos glamorosa do que outras cidades europeias, Praga acaba se tornando mais simpática aos meus olhos: os carros antigos, as estátuas expressionistas! As mulheres um tanto branquelas, que pareciam usar roupas dos filmes da década de 60 desfilavam pela charmosa Avenida Vlakavské, local onde também fica o Museu, fui caminhando, inflando culturalmente, a cada passo sentia uma insustentável leveza do ser, me imagina dentro da revolução de veludo, pudera, a arquitetura de Staré Mesto encanta, as casinhas, o grande portal gótico, Praná Brána, na praça central da Cidade Velha fica uma Estátua em homenagem ao reformador protestante Jan Hus, bem próximo está o relógio astronômico medieval Orlog, sinceramente  seu designe é de perder o fôlego, que construção maluca cheia de metáforas! Um dos relógios representa a posição da lua, céu e do sol. Os viajantes se concentram na praça, todos ansiosos, aguardando o girar dos ponteiros, e, a cada troca de hora o espetáculo começa: a dança da caveira, apóstolos, guerreiros, bruxa e uma galinha dourada no topo cacarejando... Seria o Cuco?  Desculpe-me por minha ignorância cosmológica...

 

Para atravessar à cidade pequena: uma ponte. Mas não é uma simples ponte! A Ponte Carlos IV, Karluv Most, tem mais de 500 anos... Atravessá-la é transcender a historia dessa pequena nação do leste europeu, a arte paira pela ponte: cantores, pintores, mendigos... Aquela antiga ponte de pedra com seus arcos no meio do Moldávia transpira arte! Faço a travessia admirando as 30 estátuas barrocas, músicos tocam músicas medievais, que servem de inspiração para metáforas poéticas por várias horas... A estátua de São João Nepomuceno era a mais notável de todas, e, pensando melhor, pra que a pressa para atravessar a ponte, os pintores as margens do Moldávia a desenhavam, essa era um posição estratégica para conseguir ver ao fundo a torre gótica no final da ponte, já do outro lado, estavam os restaurantes requintados, teatros, salão de ópera e a moderna arquitetura do Frank Gehry's, que não tem nada de Medieval. 

         Esse outro lado do rio é um sonho para os Boêmios! Montmartre que me perdoe, mas o local que eu idealizava Baudelaire recitando poemas nos dias lua cheia não era a Paris que conheci, mas sim a Praga que senti! E para turbinar minha veia literária encontro em Mala Strana o museu de Kafka... Pura metamorfose! Saio deslumbrado e com um novo conceito de museu contemporâneo, de como a arte atua com o telespectador, e, do impacto ideológico que ela traz, talvez seja o processo, afinal isso é Kafka...

 

Mesmo querendo ficar tomando cerveja e comendo pato ao molho ao som de jazz, de se sentir realizado vendo os artistas itinerantes percorrendo Nové Mesto, subo o morro até o Castelo de Praga, atravesso o portão onde ficam os guardinhas com fardas coloridas, e, acima deles, estátuas intimidadoras, mas a frente dou de cara com a imponente Catedral de São Vito, gótica com milhares de detalhes, o castelo é grande, há bastante coisa para se ver, as lojas com roupas de armaduras medievais são minhas prediletas,  depois da lojas que ironicamente vendem artigos comunistas, ficam às humildes casinhas dos plebeus...

 

E lá de cima do castelo, que visão extraordinária de toda a cidade antiga, da ponte, e do bairro dos judeus. Agora sim descubro, porque Praga também é conhecida como a cidade das cúpulas! Quer lugar mais romântico que esse? Dá para percorrê-la a pé ou de bondinho, até passear de barco pelo Rio Moldávia e quando bate a fome, tem vários fast foods ao estilo ‘leste europeu’, com linguiças enormes, maiores que o pão esperando para serem saboreadas, e, a noite tem sempre uma festinha pra ir: teatro dos bonecos, ópera no The Municipal House, festa de máscaras, sarau, enfim...

 

Volto do Déjà vu e os papagaios de plantão estão boquiabertos, desolados, encharcados: “Como eu faço pra chegar a Praga mesmo?” “O primeiro passo é ler Milan Kundera!” “E o segundo?” “Em um dia chuvoso com calça branca ter um deslumbre filosófico: Praga é onde a Europa fica mais bonita!”

Marcelo Nogal

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A MISSA DO MOCHILEIRO 

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (CAMINHANDO PELO CENTRO HISTÓRICO, CASTELO E MUSEUS DA CIDADE);

 

COMO CHEGUEI: ÔNIBUS DE AMSTERDAM - EUROLINES;

 

ONDE FIQUEI: HOSTEL ADVANTAGE - 11 EUROS;

 

O QUE COMI: COMPREI ALIMENTOS NO MERCADO LOCAL;

 

COMO ME LOCOMOVI: CAMINHANDO PELA CIDADE;

 

PRA ONDE FUI: PEGUEI UM ÔNIBUS PARA BARCELONA (18HS DE VIAGEM);

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