Relato Mostar
NO PAÍS QUE SOBREVIVER É UMA DADIVA!
Quando se atravessa a fronteira da Croácia com a da Bósnia, rapidamente se percebe nitidamente o contraste financeiro entre os países. A bandeira do país recém-nascido é linda! A Bósnia tem apenas vinte anos de existência... O ônibus durante o percurso praticamente margeia o rio Neretva de ponta a ponta. A paisagem dos Bálcãs é deslumbrante, as montanhas, a flora o rio verde esmeralda...
Mas quando chegamos a cidade, tudo muda, ainda parece que estamos vivendo em tempos de guerra, os prédios de cinco andares tem as paredes perfuradas de bala, no primeiro andar ficam as lojas, que parecem fantasmas, com algumas pessoas um tanto quanto estranhas, com comportamentos um tanto quanto suspeitos ficam observando o ônibus atravessar a cidade, até que o ônibus para em um aterro cercado por uma mata fechada, lá tem alguns carros velhos da década de oitenta estacionados. A situação chega a dar medo, mas os nativos da Bósnia veem aquela situação como normal...
Alguns passageiros, estranhos, sobem ao ônibus e depois de alguns minutos seguimos viagem à Mostar... Um dos passageiros sentou-se do meu lado, escutava uma versão moderna e local de “Eye of the tiger” de Surviver... Cantava emocionado a música. Achava aquele comportamento estranho, mas enfim o mundo é estranho...
A viagem de Dubrovinik até Mostar leva cerca de 4hs... Em que boa parte do tempo se passa atravessando as fronteiras, que são várias... Devido à formação geográfica, a estrada entra e sai da Croácia algumas vezes...
Quando o ônibus chega à cidade de Mostar, rapidamente me deparo com um imenso cemitério, de ambos os lados da avenida principal, onde milhares de pessoas mortas no massacre da década de 90 estão enterradas... Aquele local é o coração da cidade. Na verdade o cemitério é maior que a cidade propriamente dita!
Chegamos ao terminal rodoviário, metade está destruído devido à guerra, há goteiras, um dos banheiros não funciona, e o único funcional é fedido... Diríamos abandonado! A estação de trem fica do lado, percebo que a cidade de Mostar é praticamente habitada por muçulmanos: os restaurantes, os apartamentos, os minaretes, a mesquita... São vários traços islâmicos pela cidade. O antigo restaurante mal iluminado do terminal têm uma coloração vermelha, os sofás coloridos de courino dão um aspecto kitsch ao local, ainda mais com aqueles velhos barbudos tomando chá e conversando num tom de voz mais elevado.
Rapidamente fui abordado na rodoviária por pessoas me oferecendo hospedagem, foi fácil conseguir um lugar pra dormir por 15 Euros. E durante o caminho Camila, dona da pousada, ia me contando a história da cidade, de como os croatas e os sérvios dizimaram a população, armando uma emboscada nas montanhas! Olhando pras montanhas e vendo a cidade lá no meio, fica claro e evidente o massacre que ocorreu naquela região. Caminhando pela cidade, ainda era possível ver as construções destruídas, o museu, o hospital...
Tudo na Bósnia é extremamente barato, e para cambiar o Euro somente nos bancos. Mostar está a duas horas de ônibus de Sarajevo, saem três partidas durante o dia.
A antiga ponte medieval da cidade é uma das construções mais lindas que vi até hoje. Infelizmente ela não é original, os bombardeios no dia da emboscada destruíram a ponte. Luciano Pavarotti e Bono Vox, emocionados com a história desse povo, que apesar das terríveis investidas da Sérvia e da Croácia, sobreviveram bravamente, começaram a realizar concertos beneficentes, em conjunto criaram a canção “Miss Sarajevo” e com o dinheiro arrecado reconstruíram a ponte, que simbolicamente é muito importante, representa a vitória, mais do que isso, a sobrevivência do povo Bósnio.
Caminhando pela cidade era fácil perceber a admiração das pessoas por Luciano Pavarotti, todos me indicavam o local onde Pavarotti fez o show em Mostar. Pra eles aquela ponte representava o marco zero, o reinicio de um povo...
É difícil não gostar, não ter orgulho dessa nação depois de sentir a história pelas ruas... Agora também começo a entender porque aquele jovem cantava a nova versão de Surviver com tanta emoção.
Tomar café num dos bares robustos da cidade é delicioso. Você sente que os bosnianos são rudes, mas autênticos, que curtem aquele “tomar café” como se fosse o último gole, como alguém que descobriu a essência do “Carpe Diem” e agora não quer perder o prazer de viver com dignidade por nada.
Até que ocorre um apagão na cidade e não vejo mais nada, tenho que voltar para minha pousada, no meio da escuridão, ao som dos cânticos do alcorão...


A MISSA DO MOCHILEIRO
QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (CAMINHANDO PELO CENTRO HISTÓRICO);
COMO CHEGUEI: DE ÔNIBUS DE DUBROVNIK (6 HORAS DE VIAGEM);
ONDE FIQUEI: QDO CHEGUEI NO TERMINAL FUI ABORDADO POR MORADORES OFERECENDO UMA CAMA POR 15 EUROS, ACEITEI.
O QUE COMI: COMPREI ALIMENTOS EM UM SUPERMECADO LOCAL;
COMO ME LOCOMOVI: CAMINHEI POR TODA A CIDADE;
PRA ONDE FUI: ÔNIBUS PARA SARAJEVO (3HS DE VIAGEM) HÁ QUATRO SAÍDAS DIÁRIAS - DUAS PELA
MANHÃ, UMA À TARDE E OUTRA À NOITE;