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Relato Juazeiro

Da minha Romaria

 

Levou uma eternidade para chegar ao sul do Ceará, diria: Uma via dolorosa para pagar todos os pecados e a noitinha lá estava eu em Juazeiro do Norte, mas nada de descansar, a romaria continuava naquela noite de quarta: Campeonato Cearense de Futebol, outro sacrilégio! Acho que todo torcedor do time local sofre, tanto do Icasa, quanto do Guarany... Como deve ser sofrível torcer pra esses times ruins daqui, fui ao jogo no Romeirão, não sei da onde surgia uma garrafa de whisky, mas ela vinha parar na minha mão, sempre com alguém dizendo: “Passa pra frente, Galego!” pudera, o time local perdendo por 4 a 0, depois vinha o amendoim... Pela primeira vez que não vi ninguém xingar o juiz de “Filho da Puta”, mas: “filha de uma rapariga, foi pênalti!” português que ia gostar dessa peleja e tinha hora que a galera da bateria que leva esporro: “Para com isso, porra! Tamô levando o goleada e você continua batucando, osh!” e lá vinha a garrafinha de whisky de novo, depois de dar a volta pelo estádio, isso que eu chamaria de comunhão moderna: “Vamô Galego, molha o bico logo!”

 

Bem cedo com um porre danado e preocupado com meu time de Sampa ser uma desgraça pior que o time local, resolvo fazer a romaria em Juazeiro, primeiro passo, passar pelas principais igrejas da cidade, no meio do caminho vou comprando pelas bancas a literatura popular daqui, a de cordel, que por incrível que pareça fala da relação conflitante entre Lampião e o Diabo, Maria Bonita também entrava nesse fuzuê... Depois de chegar a primeira igreja e orar pelas vidas perdidas no Haiti, avisto a montanha (Horto) com a estátua de Padre Cícero, próximo destino de minha romaria... E logo descubro que o dia não vai ser nada fácil...

 

No caminho encontro mulheres carregando pedregulhos na cabeça, pessoas subindo ajoelhadas, no caminho ladeira acima como em todo local cristão, imagens da via dolorosa seguida por Cristo até sua crucificação foram construídas, no meio do caminho não resisto ao calor local e já encharcado de suor, tomo uma cajuína geladinha, é bem doce.... Nos casebres ao o longo da subida, vou notando como o povo daqui é devoto ao cristianismo, pelas janelas vou bisbilhotando dentro das casas, e percebo que a salas por mais humildes que sejam, são belíssimos altares religiosos, imagens de diversos santos, velas, bonecos de barro, colares, flores, cada casa uma novidade de acordo com a criatividade do dono.

 

Sigo subindo até chegar ao topo, exausto, descanso, vendo as pessoas tirarem fotos ao lado de Padre Cícero, do outro lado, várias velas acessas aos mortos, em pequenos santuários algumas preces foram deixadas e do lado um casarão azul, antiga casa de Padre Cícero, no local bonecos de cera recriando sua história, em um “caixa de pedidos de graças” as pessoas vão fazendo seus pedidos, muitos que lá chegam não sabem escrever e pedem acanhadamente para que alguém escreva seus desejos: “Desejo que minha filha Maria Imaculada consiga se formar em Medicina!” na sala ao lado, vários totens dos pedidos alcançados: corações, cabeças, mãos de madeira, camisas de muitos jogadores do nordeste que foram campeões em algum clube de expressão do Brasil, ou grupos de forró que conseguiram gravar um LP...

 

Na sala maior um painel contando a história de Padre Cícero, ao ler, começo a ver algumas controvérsias, descubro que a pessoa que tanto veneram, contradiz com tudo que prega o cristianismo, pode ser um achismo, mas pelo que leio, ele parece ser uma espécie de Robin Wood de Juazeiro, que tentou se dar bem na vida ou na política ou na Igreja e ao ajudar o povo, começou a ser visto como santo, e depois de sua morte a popularidade o transformou no que é, parece ter saído um livro recente sobre esse tema e tem rasgado bom elogios da critica.

 

Como sou apenas um mochileiro, pedi ao padre Cícero que abençoasse meu time e me mandei dali, fui almoçar, agora era hora de fazer uma romaria pelo shopping da cidade, ver mulheres de Juazeiro do Norte!

 

Você encontra pousadinha modestas do lado do Estádio Romeirão, chegando à rodoviária os motoqueiros vão querer ganhar uma grana dos turistas desavisados, mas dá pra ir a pé até o local, para o centro da cidade é uma caminhada boa cinco quilômetros. Se não quiser subir as escadarias, um coletivo te leva até o topo da montanha (Horto) onde está a estátua de Padre Cícero.

Marcelo Nogal

Juazeiro do Norte dicas viagem

A MISSA DO MOCHILEIRO 

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 2 DIAS (FAZENDO A ROMARIA)

 

COMO CHEGUEI: ÔNIBUS DE PIRI PIRI;

 

ONDE FIQUEI: HOSPEDADO HOTEL SANTO AMARO;

 

O QUE COMI: COMI BUCHADA E TOMEI CAJUÍNA;

 

COMO ME LOCOMOVI: A PÉ PELA CIDADE

 

PRA ONDE FUI: PEGUEI ÔNIBUS NOTURNO PRA UBAJARA (8HS);

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