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Relato Jericoacoara

Na terra dos inocentes

 

Estava em algum lugar do mundo perdido, chamado de Tururu, dando voltas na Igrejinha da cidade. Motivo: ônibus quebrado. A viagem que leva cerca de 7h de Fortaleza até Jericoacoara, dessa vez levará um pouco mais...

 

Quase a tardezinha fazíamos baldeação em Jijoca em um pau-de-arara com tração nas quatro rodas para atravessar as dunas até Jeri... Para o motorista não se perder naquele deserto cearense, ele se guiava pelas estrelas, e, quando já estávamos próximos do vilarejo podíamos avistar o farol.

 

Para manter o vilarejo dos pescadores em seu estilo rústico tradicional, construíram as vias elétricas por baixo da terra. Quando se aproximávamos de Jeri algumas dezenas de crianças pulavam em cima do pau-de-arara oferecendo hospedagem na casa dos pescadores, conseguia na época um quarto por uma bagatela de cinco reais, hoje com a evolução do turismo no local, os valores de hospedagens são altos.

 

O argumento de um garotinho foi crucial na minha escolha, ele disse: “A casa do meu pai fica na Avenida principal da cidade!” Perguntei: “Quantas avenidas têm Jeri?” o garotinho levou alguns minutos para contar e disse: “Acho, que seis!” Gostei da ideia de ficar na Avenida Principal, ele me convenceu... Além da hospedagem pagava mais cinco reais pela refeição feita pela esposa do pescador: Um mexido de raia!

 

Eu adorava conversar com as crianças do local, era o que mais eu via em Jeri: crianças! Enquanto eu observava os pescadores tecendo a rede, chegava um garoto perguntando de onde eu era, respondia: “Sampa!” “Ahh, então o senhor deve conhecer o Pedro! Ele também mora em São Paulo e também ficou na casa de meu pai em Jeri!” “Sinto muito, mas não o conheço!” “Como não, senhor!” parava outro garoto do meu lado, sempre me olhavam com estranheza, pediam para tirar uma foto deles, geralmente o cabelo era duro como bucha, perguntei: “O que vai ser quando crescer?” “Hoje eu sou guia, mas quando crescer eu posso ser pescador ou padre! Acho que vou ser padre, porque o da vila morreu!”

 

Me ofereciam água de coco ou se ofereciam para me guiar até a pedra furada. Aceitei o convite, fui até o local, realmente a visão da orla é a mais linda que vi em toda minha vida, simplesmente uma das praias mais bonitas do Brasil! Pouca gente e eu na calmaria do mundo...

 

O garotinho me contou toda a lenda da pedra furada e a passagem do sol por ela, o surgimento da cidade... Cruzava a orla vendo as jangadas, passei pela tal igrejinha sem padre, subi a grande duna, para ver o pôr-do-sol, geralmente era lá arriba que os praticantes de capoeira mostravam sua arte.

 

Quando a noite trouxe milhares de estrelas ao céu, alguns mochileiros acendiam uma fogueira, outro trazia o violão e assim seguia à noite, mas era sábado e eu tinha que conhecer o bar do Forró! A entrada era free... Entravam crianças, velhos, cachorros, turistas... Todos com o intuito de curtir o forró das raízes e como o local era aberto, podia se dançar o arrasta-pé olhando para a lua! E as cinco da madruga, para os boêmios que resistiram à noite era hora de ir para a padaria do seu Zé. A única padaria do vilarejo, que só abria de domingo para atender os festeiros do Bar do Forró. Pãozinho quentinho, feito na hora, o forno ficava do meu lado, a manteiga chegava a derreter dentro do pão!

 

Jeri ainda tinha os passeios de jipe pela região dos lagos... Mas depois da noitada, vocês acham que eu precisava de mais alguma coisa? Espero que nos dias de hoje Jericoacoara não tenha perdido seu charme de vilarejo de pescador. Que o turismo não tenha destruído sua inocência!

Marcelo Nogal

jericoacoara dicas viagem

A MISSA DO MOCHILEIRO 

 

QUANTO TEMPO FIQUEI: 3 DIAS (NAS PRAIAS DA CIDADE);

 

COMO CHEGUEI:  ÔNIBUS ATÉ JIJOCA (7HS) E DEPOIS OUTRO ESPECIAL PARA AS DUNAS ATÉ JERI (DURANTE À NOITE);

 

ONDE FIQUEI: HOSPEDADO NA CASA DE UM DOS PESCADORES;

 

O QUE COMI: COMI PESCADO COM ARROZ NA CASA DO PESCADOR;

 

COMO ME LOCOMOVI: A PÉ PELA CIDADE;

 

PRA ONDE FUI: VOLTEI PRA FORTALEZA;

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